Descubra como é formada a combinação dos sons nos versos com as rimas perfeitas e imperfeitas.
Leia o poema a seguir:
Pontinho de vista
Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.
Mas, se formiga falasse
e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
– Minha nossa, que grandão!
(Pedro Bandeira)
Veja que em alguns versos do poema o autor utilizou a mesma combinação de sons e de letras entre as palavras que os encerram, como em:
zangado/levantado
chão/grandão
Essa semelhança de sons em lugares determinados do verso é conhecida como rima. Mas, atenção! A rima é uma coincidência de sons e não de letras. Assim, pode haver diferentes tipos de rimas que realizam de formas diversas a combinação entre os sons dos versos.
Veja, agora, dois tipos dessas rimas:
a) Rimas perfeitas – são aquelas que possuem uma identidade absoluta entre os sons.
A porta
Sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Não há nada no mundo
Mais viva que uma porta
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Eu fecho tudo no mundo
Só vivo aberta no céu!
(Vinicius de Moraes)
É interessante observar que, na última estrofe, o poeta faz uma rima perfeita com a combinação de sons e não de letras:
quartel/ céu
Veja mais um exemplo dessa combinação de sons com letras diferentes no poema a seguir:
Colo de avó
Tem avó que é diferente,
nada de cachorro, gato,
cavalo ou duende.
Galinha de estimação
é o que a avó carrega
feito mapa do tesouro,
para lá e para cá
(parecem duas dançarinas).
e para quem conta
os seus segredos, fala do tempo,
do que vai colher, do que vai plantar.
A galinha concorda: có,
discorda: cócó,
Às vezes dorme, às vezes acorda
e muitas vezes esquece
que a avó não é galinha.
Apesar de tão quentinha,
a avó é gente.
(Roseana Murray)
b) Rimas imperfeitas: são aquelas em que não há identidade absoluta entre os sons, sendo realizada de duas formas:
combinação das vogais acentuadas e e o, semiabertas com semifechadas:
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
(Como eu te amo – Gonçalves Dias)
Veja que nesse poema o autor utilizou-se da combinação de uma vogal semiaberta com uma semifechada para a construção da rima:
ourora/sedutora
combinação de uma vogal oral com uma vogal nasal:
De que ele, o sol, inunda
O mar, quando se põe,
Imagem moribunda
De um coração que se foi...
(João de Deus)
Observe que o poeta faz a combinação de sons entre uma vogal oral e uma nasal:
põe/foi
Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto: