A interpretação de texto é a compreensão, a análise e a explicação de um texto. Para uma boa interpretação, é preciso conhecer o tipo, o gênero e a função do texto analisado.
A interpretação de texto é a compreensão, a análise e a explicação de um texto. Nesse processo de leitura, é importante ficar atento(a) aos pronomes, às conjunções e aos advérbios, e perceber suas relações com outros elementos da estrutura textual. Também é necessário marcar palavras ou frases mais importantes.
Outros conhecimentos também auxiliam na interpretação de texto, tais como: tipos e gêneros textuais, características de textos literários e não literários, funções da linguagem e figuras de linguagem. Ah, ter um vocabulário amplo, obtido na prática diária de leitura, também ajuda bastante na compreensão de um texto.
Leia também: Você sabe como produzir um bom texto?
Sabia que, quanto mais você lê, fica mais fácil interpretar um texto? Isso porque, na prática ou hábito de leitura, você acaba desenvolvendo, naturalmente, sua capacidade de interpretação.
Então, leia muito! Livros, revistinhas, jornais, revistas etc.
Procure se informar sobre vários assuntos. Às vezes, você não entende algo no texto que está lendo porque ele fala sobre algo que você não conhece. Quanto mais informado(a) você estiver, mais fácil vai ser interpretar certos textos.
Enquanto estiver lendo o texto, marque os pronomes, os advérbios e as conjunções que você encontrar. Não sabe por quê? Porque essas classes de palavra estabelecem relações com outras palavras do texto, de forma a produzir diversos sentidos.
Certas informações que acompanham o texto que você está lendo podem ajudar a interpretar esse texto. O título pode sugerir a temática ou mesmo a intenção autoral. O lugar (ou veículo) onde o texto foi publicado também pode ser algo sugestivo. Por exemplo, se foi em uma revista popular, de ciências ou de esporte. Afinal, cada tipo de revista usa uma linguagem diferente.
De quem é a autoria do texto? Se você conhece o jeito de escrever da autora ou do autor do texto, isso também facilita a sua leitura. Quando o texto foi escrito? A linguagem e temática de um texto podem ser influenciadas também pela época em que ele foi produzido. Por fim, qual é o objetivo ou função do texto? Um texto pode informar, divertir, fazer refletir etc. Por isso, é importante conhecer as funções da linguagem.
Determine que tipo e gênero de texto você vai ler ou está lendo. Cada tipo e cada gênero de texto têm características próprias. Conhecer tais características auxiliam você no entendimento do texto.
Veja se o texto é literário ou não literário. Um texto literário possui características diferentes, como a presença de figuras de linguagem, ficcionalidade, subjetividade e ambiguidade. Já o texto não literário é denotativo, objetivo e claro. Portanto, você não pode ler um texto literário da mesma forma que lê um texto não literário.
Se tiver dúvida sobre o significado de alguma palavra, consulte o dicionário. Assim, você vai aprender mais e mais palavras novas. Ah, voltando na primeira dica, quando você tem o hábito de ler, seu vocabulário se amplia mais e mais.
Se o texto for narrativo, marque os nomes dos personagens, lugar e tempo da narrativa, fatos mais relevantes. Se for descritivo, marque as características mais importantes do que está sendo descrito. Se for expositivo, marque as informações centrais do texto. Se for argumentativo, marque os argumentos e as conclusões. Se for injuntivo, marque os imperativos. Assim, se precisar consultar o texto de novo, os elementos mais importantes estarão destacados.
Ao ler, questione sempre. Queira saber o porquê das afirmações, as segundas intenções, as consequências de um fato, as conclusões acerca de ideias etc.
Para conferir outras dicas de interpretação de texto, clique aqui.
A primeira coisa que você precisa saber é se o texto é literário ou não literário.
Vamos começar então por um texto literário — a letra de música Aquarela, mais conhecida na voz do cantor Toquinho. Se é um texto literário, eu espero encontrar ambiguidade, estranheza, figuras de linguagem. Então vou marcar todas as palavras ou expressões que me deixam em dúvida ou sugerem alguma coisa:
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
A folha a que o eu lírico se refere é uma folha de papel, onde ele desenha um sol e um castelo.
Com o lápis em torno da mão
E me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos tenho um guarda-chuva
Ele coloca a mão no papel, passa o lápis em torno dela, e assim tem o desenho de uma luva. Se ele desenha a chuva, desenha também um guarda-chuva com apenas dois riscos.
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu
Ele usa a conjunção “se”, que sugere uma condição ou hipótese. Portanto, ele fala da possibilidade de um pingo de tinta cair na folha de papel. Caso isso aconteça, o eu lírico vai imaginar que essa mancha de tinta é uma gaivota. Note também que ele usa diminutivos, o que dá ao texto um tom mais infantil, leve ou afetivo.
A letra é grande, então vou saltar algumas estrofes. O eu lírico vai continuar usando sua imaginação para desenhar. Já você deve marcar possíveis figuras de linguagem do texto literário:
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Veja que o eu lírico comparou o futuro com uma astronave. Isso mesmo! Ele criou uma metáfora! Assim, você deve ficar atento(a) às ações dessa astronave, pois ela faz o mesmo que o futuro faz. Além disso, observe que marquei o pronome relativo “que”, pois ele se refere à astronave. Já os verbos marcados têm como sujeito a astronave. Se você não consegue perceber isso, você não pode entender o que está lendo.
Assim, o eu lírico caminha para o fim da letra de música:
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá
Assim, o eu lírico traz mais uma metáfora. Afinal, o que é a “estrada”? A estrada é a vida, ou seja, a trajetória que percorremos em nossa existência. Note que, ao usar o pronome “essa” (presente na palavra “nessa”), ele faz referência a algo dito anteriormente, ou seja, à vida, quando ele diz “nossa vida”.
O eu lírico diz que não podemos conhecer o que virá, ou seja, não sabemos qual será nosso futuro. Além disso, ele afirma que ninguém sabe o “fim dela”, isto é, o fim da estrada, ou seja, o fim da vida. Veja que o pronome “ela” (presente na palavra “dela”) é um termo que se refere à estrada.
Então, vamos todos “numa linda passarela”, ou seja, num lindo caminho de uma aquarela (uma pintura, um desenho), o que é outra metáfora para a vida. Em seguida, o eu lírico afirma que essa aquarela um dia “descolorirá”. Aí eu te pergunto... O que significa isso? Se a aquarela é a vida, como a vida pode descolorir?
Como é um texto literário, a interpretação pode ser ampliada, de forma que há possibilidades e não necessariamente uma interpretação única. Então a vida “descolorir” pode significar ficar sem alegria, sem entusiasmo ou se aproximar do fim. Desse modo, a letra se encerra, melancolicamente:
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo (que descolorirá)
Note que o pronome relativo “que” se refere, respectivamente, ao sol, ao castelo e ao mundo. Portanto, o eu lírico afirma que todos esses elementos vão perder a cor.
Percebeu que, para interpretar esse texto literário, foi preciso identificar elementos coesivos e a metáfora? Se você não ficar atento(a) a isso, pode não entender nada. Além disso, outros elementos nos ajudaram, indiretamente, na interpretação, tais como:
Agora vamos fazer a interpretação de um texto não literário. Em primeiro lugar, leia o título: “Propriedades da água”. O que ele sugere? Hum... que o texto vai falar de características da água. Então deve ser um texto informativo, não é mesmo? Se você estiver certo(a), o texto tem a função de informar. Então se prepare para receber as informações.
Enquanto estiver lendo o texto, marque eventuais pronomes e conjunções. Além disso, marque as informações centrais do texto. Vou fazer essas marcações, ou seja, vou sublinhar esses elementos. Veja só:
Propriedades da água
A água é uma substância que apresenta algumas importantes propriedades. Veja, a seguir, algumas delas:
Coesão das moléculas: As moléculas de água ficam próximas uma das outras devido às ligações que estabelecem (ligações de hidrogênio). Essa propriedade é conhecida como coesão e é essencial para os seres vivos. Um exemplo disso está no fato de que a água move-se pelas plantas devido à propriedade de coesão.
Moderação de temperatura: A água apresenta uma capacidade de absorver e liberar calor. Essa propriedade é extremamente importante quando pensamos no resfriamento do nosso corpo. O suor é rico em água, e à medida que esse evapora, reduz-se a temperatura do corpo.
Flutuação do gelo sobre a água líquida: A água é uma substância que em seu estado sólido flutua sobre o estado líquido. Isso se deve ao fato de que o gelo é menos denso que a água em sua forma líquida. Essa propriedade permite, por exemplo, que, em lagos congelados, exista vida sob a superfície.
Solvente universal: A água é um importante solvente, ou seja, é capaz de dissolver substâncias. Essa capacidade é importante, por exemplo, para garantir que substâncias sejam transportadas pelo nosso organismo.
SANTOS, Vanessa Sardinha dos; SOUSA, Rafaela. Água. Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/a-agua.htm.
Agora que fiz todas essas marcações, eu não preciso reler o texto. Se eu tiver alguma dúvida, é só ver as marcações. Vejamos os pronomes que marquei em vermelho:
Perceber essas relações ajuda você a entender o que está lendo. Normalmente, percebemos isso automaticamente. Mas, no caso de dúvida, é preciso parar e ver a que palavra o pronome se refere.
Já os pronomes demonstrativos, que marquei em verde, também fazem referência a informações expressas anteriormente no texto:
No item “coesão de moléculas”, o demonstrativo “disso” se refere à propriedade de coesão. Já no item “moderação de temperatura”, o demonstrativo “esse” faz referência ou substitui a palavra “suor”, isto é, “à medida que [o suor] evapora”. Por fim, no item “flutuação do gelo sobre a água líquida”, o demonstrativo “isso” faz referência ao fato de a água flutuar.
Percebeu que conhecer esses pronomes permite que você perceba várias relações entre os elementos do texto? Tais relações são importantes na construção de sentido. Ah, conhecer as funções das locuções conjuntivas “à medida que” (indica proporção) e “ou seja” (inicia uma explicação) também ajuda muito.
Ufa! Interpretar um texto dá trabalho! Para terminar, vamos ver as informações centrais que destaquei:
No final das contas, o texto apresenta quatro propriedades da água, isto é, quatro elementos que caracterizam a água. E detalha cada uma dessas propriedades.
O objetivo da interpretação de texto é que você obtenha o máximo possível de compreensão do texto lido. Você já leu um texto e ficou com a sensação de que não entendeu alguma coisa? Pois é, nem tudo é óbvio em um texto. Então você precisa interpretar, ou seja, acionar seus conhecimentos linguísticos e de mundo para entender o que está lendo.
Assim, a interpretação de texto também tem como objetivo a identificação de informações implícitas, ou seja, aquelas que são sugeridas e não explicitadas. Portanto, na interpretação, você precisa ser detalhista. Interpretar um texto é como desvendar um mistério, então você precisa encontrar as pistas.
Essas “pistas” estão na estrutura do texto e no contexto de produção. Assim, cada “pista” leva ao grande objetivo da interpretação, que é desvendar o sentido ou os sentidos do texto. Por fim, interpretar é analisar, entender e explicar um texto.
Questão 1
(Enem)
O dia em que o peixe saiu de graça
Uma operação do Ibama para combater a pesca ilegal na divisa entre os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins incinerou 110 quilômetros de redes usadas por pescadores durante o período em que os peixes se reproduzem. Embora tenha um impacto temporário na atividade econômica da região, a medida visa preservá-la ao longo prazo, evitando o risco de extinção dos animais. Cerca de 15 toneladas de peixes foram apreendidas e doadas para instituições de caridade.
Época, 23 mar. 2009 (adaptado).
A notícia, do ponto de vista de seus elementos constitutivos,
A) apresenta argumentos contrários à pesca ilegal.
B) tem um título que resume o conteúdo do texto.
C) informa sobre uma ação, a finalidade que a motivou e o resultado dessa ação.
D) dirige-se aos órgãos governamentais dos estados envolvidos na referida operação do Ibama.
E) introduz um fato com a finalidade de incentivar movimentos sociais em defesa do meio ambiente.
Resolução:
Alternativa C.
O texto informa sobre uma ação: “Uma operação do Ibama para combater a pesca ilegal na divisa entre os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins”. Traz a finalidade que motivou essa ação: “a medida visa preservá-la [a região] ao longo prazo, evitando o risco de extinção dos animais”. E mostra o resultado dessa ação: “incinerou 110 quilômetros de redes usadas por pescadores durante o período em que os peixes se reproduzem” e “Cerca de 15 toneladas de peixes foram apreendidas e doadas para instituições de caridade”. Como se vê, o título “O dia em que o peixe saiu de graça” não resume o conteúdo do texto, pois a ideia central do texto está na operação do Ibama. Além disso, o texto é informativo, não traz argumentos para defender uma ideia. Nem é direcionado a um destinatário específico.
Questão 2
(Enem)
O que é bullying virtual ou cyberbullying?
É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara.
Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. “O autor, assim como o alvo, tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos”, explica Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
Segundo o texto, com as tecnologias de informação e comunicação, a prática do bullying ganha novas nuances de perversidade e é potencializada pelo fato de
A) atingir um grupo maior de espectadores.
B) dificultar a identificação do agressor incógnito.
C) impedir a retomada de valores consolidados pela vítima.
D) possibilitar a participação de um número maior de autores.
E) proporcionar o uso de uma variedade de ferramentas da internet.
Resolução:
Alternativa B.
Segundo o texto, “o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores”. Portanto, a prática do bullying é potencializada, já que o texto afirma que o anonimato pode “aumentar a crueldade”. Assim, o texto considera como “agravante” o fato “de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara”, pois isso aumenta “a crueldade dos comentários”, afinal, podemos concluir, o agressor não tem medo da punição já que o “anonimato” dificulta a sua identificação.
Questão 3
(Enem)
Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando.
Um cão cheirando o futuro
Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. Adaptação.
O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi
A) o modo raro como foi tratado o “futuro”.
B) a referência ao cão como “animal de estimação”.
C) a flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).
D) a aproximação não usual do agente citado e a ação de “cheirar”.
E) o emprego do artigo indefinido “um” e do artigo definido “o” na mesma frase.
Resolução:
Alternativa A.
Em um texto literário, elementos que geram estranheza podem estar presentes. No verso de Drummond, o que, a princípio, gera estranheza é o fato de um cão cheirar o futuro. Porém, o verbo “cheirar” pode ser entendido como “ver” ou “sentir”. Como é um texto literário, as possibilidades de interpretação são ampliadas.
Fontes
CAMPIGOTO, José Adilçon. Interpretação de textos, de história e de intérprete. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 46, 2003.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
LEFFA, Vilson J. Interpretar não é compreender: um estudo preliminar sobre a interpretação de texto. In: LEFFA, Vilson J.; ERNEST, Aracy (org.). Linguagens: metodologia de ensino e pesquisa. Pelotas: Educat, 2012. p. 253-269.
MORRA, Guido. Aquarela. In: TOQUINHO. Aquarela. Rio de Janeiro: Ariola, 1983.