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Milagre econômico brasileiro

Milagre econômico brasileiro foi um período da Ditadura Militar no qual a economia brasileira apresentou grande crescimento e importantes obras públicas foram realizadas.

Vista aérea da Usina de Itaipu, uma obra do milagre econômico brasileiro. As obras da Usina de Itaipu tiveram início durante o milagre econômico brasileiro.

O milagre econômico brasileiro ocorreu entre 1968 e 1973 e foi marcado por grande crescimento do PIB brasileiro, queda da inflação e do desemprego. Na época o mundo vivia a Guerra Fria, e muitos investimentos foram feitos no Brasil, principalmente por parte dos Estados Unidos.

Durante o milagre econômico, ocorreu a construção de grandes obras públicas, a maior parte delas com investimentos estatais e execução por grandes empreiteiras nacionais e estrangeiras. Apesar do aparente sucesso do milagre econômico, ele foi marcado pelo aumento da desigualdade social no Brasil e provocou uma crise econômica que se tornou uma das principais razões para o fim da Ditadura Civil-Militar.

Leia também: Ato Institucional Número 5 — autoritarismo e suspensão de direitos políticos na ditadura

Resumo sobre milagre econômico

  • Milagre econômico foi o período de maior crescimento da economia brasileira durante a Ditadura Civil-Militar.
  • O termo “milagre econômico” foi largamente utilizado nas propagandas do governo militar.
  • Durante o período, foram iniciadas as obras da Usina de Itaipu, da Transamazônica, da Ponte Rio–Niterói e da Usina Nuclear de Angra dos Reis.
  • Em 1973, uma crise econômica global impactou a economia brasileira, finalizando o milagre econômico.
  • O milagre econômico deixou consequências econômicas que perduraram por quase duas décadas.
  • Alguns historiadores e economistas defendem que o período se iniciou em 1968, outros, em 1969.
  • O milagre econômico se encerrou em 1973, durante a crise do petróleo.

O que foi o milagre econômico brasileiro?

Foi um período que ocorreu durante os anos de chumbo no Brasil, entre 1968 e 1973, no qual o PIB brasileiro cresceu mais de 10% ao ano. Em 1973, por exemplo, a economia cresceu 14%. Foi o período de maior crescimento da economia brasileira durante a Ditadura Civil-Militar.

Grandes obras foram realizadas durante o milagre econômico, como a construção da Ponte Rio–Niterói, ainda hoje a maior do Brasil; da Usina Nuclear de Angra dos Reis; de parte da Rodovia Transamazônica, que cortaria o Brasil de leste a oeste; e a criação da Zona Franca de Manaus. O financiamento dessas obras veio de empréstimos internacionais e por meio de investimentos de empresas estatais. Durante a ditadura, foram criadas 274 estatais.

Se, por um lado, a economia cresceu no período, o inverso ocorreu com o salário da maior parte dos trabalhadores brasileiros. Durante o milagre, o salário dos trabalhadores passou por um severo arrocho. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o Ipea, afirma que, durante a Ditadura Civil-Militar, o salário mínimo perdeu metade do seu poder de compra.

Contexto histórico do milagre econômico brasileiro

No início da década de 1960, o Brasil passava por uma crise política e econômica e o governo do presidente João Goulart era contestado por parte dos políticos brasileiros, pela cúpula das Forças Armadas, e por setores do empresariado, da Igreja Católica e da grande mídia.

Na época ocorria a Guerra Fria, um disputa político-ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética, e o presidente João Goulart era acusado de ser alinhado com o país socialista.

Em 31 de março de 1964, ocorreu um golpe de Estado em que Goulart foi deposto e, no seu lugar, militares passaram a governar. Em 1968, os militares chamados de linha dura assumiram o poder, e se iniciou nesse momento o que os historiadores chamam de anos de chumbo, período mais violento da Ditadura Civil-Militar, quando muitas pessoas foram presas, torturadas e mortas.

O milagre econômico ocorreu no contexto da Ditadura Militar no Brasil.

Também foi nesse período que a censura prévia se impôs, que as sessões do Congresso Nacional foram suspensas e que uma série de direitos individuais foram suspensos. Foi nesse contexto de ditadura, censura, perda de direitos e perseguições aos opositores que o milagre econômico ocorreu.

Veja também: Plano Marshal — financiamento estadunidense oferecido às nações no período pós-guerra

Quais as causas do milagre econômico brasileiro?

A primeira grande causa do milagre econômico foi o grande investimento feito pelo Estado na economia, principalmente nas áreas de geração de energia, siderurgia, transportes, construção naval e construção civil. O país recebeu grandes investimentos estrangeiros, sobretudo dos Estados Unidos.

Vale lembrar que era a época da Guerra Fria, e os Estados Unidos tinham por objetivo manter o Brasil na sua área de influência e longe da área de influência soviética. Alguns economistas também apontam que, na época, o Brasil era um greenfield, ou seja, um grande mercado nunca explorado.

Milhões de brasileiros viviam na miséria, não consumido serviços e produtos. Com parte dessas pessoas entrando no mercado de trabalho, houve o aumento do consumo, que, por sua vez, potencializou o crescimento dos três setores da economia.

Durante a ditadura o salário dos trabalhadores ficou cada vez menor. Isso ocorreu principalmente pelo controle do movimento operário, uma vez que as greves foram proibidas e os sindicatos eram controlados pela ditadura. A mão de obra mais barata também foi um fator que possibilitou o milagre econômico.

Principais características do milagre econômico brasileiro

→ Pontos positivos do milagre econômico

O maior ponto positivo foi o grande crescimento da economia brasileira no período, com o PIB do país crescendo, em média, 11% ao ano.|1| O PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no país.

A redução da inflação também foi outro ponto positivo do milagre econômico. Os investimentos estatais na economia e a construção de grandes obras, principalmente de infraestrutura, também diminuíram o desemprego.

→ Pontos negativos do milagre econômico

O primeiro ponto negativo foi o chamado arrocho salarial — a perda do poder de compra dos trabalhadores. Entre 1964 e 1985, o poder de compra do salário mínimo caiu pela metade.|2|

O aumento da desigualdade social foi outro ponto negativo do milagre econômico, o lucro dos grandes empresários aumentou enquanto o salário da maior parte da população caiu durante o período. Outro fator que favoreceu o aumento da desigualdade social foi a redução da alíquota mais alta do imposto de renda e o aumento dela para as menores rendas.

O Brasil cresceu às custas de grandes empréstimos de bancos e instituições estrangeiras durante o milagre econômico, isso fez com que a dívida externa brasileira crescesse muito durante a Ditadura Militar. No início do milagre, a dívida externa brasileira era de 3,1 bilhões de dólares, no final, era de 12,5 bilhões de dólares.|3|

Alguns historiadores defendem que, durante a Ditadura Civil-Militar, a corrupção aumentou e recursos estatais foram transferidos para diversos empresários, sobretudo do setor de construção civil. A censura e a falta de fiscalização favoreceram esse tipo de prática.

Manifestantes segurando cartazes contra a censura em texto sobre milagre
Protestos contra a censura durante a Ditadura Militar.

Em sua obra, Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a Ditadura Civil-Militar, 1964-1988, Pedro Henrique Pedreira Campos afirma que foi durante a ditadura que as grandes empreiteiras do Brasil se inseriram no tecido orgânico do Estado.

Principais obras realizadas durante o milagre econômico brasileiro

→ Usina Hidrelétrica de Itaipu

Durante o milagre econômico, houve a expansão industrial no país que levou à necessidade de ampliação da produção de energia elétrica no Brasil. Em abril de 1973, foi assinado o Tratado de Itaipu, entre Brasil e Paraguai. O tratado estabelecia os critérios e responsabilidades na construção e manutenção da futura usina hidrelétrica.

Em 1982, o lago da represa começou a ser cheio, e, em 5 de maio de 1984, o primeiro gerador da usina começou a funcionar. Quando foi concluída, ela se tornou a maior hidrelétrica do mundo, só perdendo o posto em 2003, quando a Hidrelétrica de Três Gargantas passou a funcionar na China.

→ Ponte Rio–Niterói

Em 1963, foi criado um grupo de estudo para construção da ponte ligando o Rio a Niterói. Em 1968, o projeto da ponte foi aprovado pelo governo Costa e Silva. Em 1968, ocorreu a cerimônia de início das obras da ponte, que contou com a presença da rainha Elizabeth II e do seu marido, o príncipe Philipe.

As obras se iniciaram, de fato, em janeiro de 1969 e foram concluídas em 4 de março de 1974, quando a ponte foi inaugurada com o nome de Presidente Costa e Silva. A ponte tem 13.290 metros de comprimento e era uma das maiores do mundo quando foi inaugurada. Segundo sua atual concessionária, a Ecoponte, passam por dia 150 veículos sobre a ponte.

→ Transamazônica

Durante a ditadura, havia a preocupação dos militares com a soberania brasileira sobre a Amazônia. Para garantir a posse dessa região, os militares desenvolveram diversos projetos de colonização da região, de exploração econômica e de estradas que conectariam a região ao resto do Brasil.

A principal rodovia criada para atingir tal objetivo foi a Transamazônica, projetada para ter cerca de 8 mil quilômetros. A rodovia foi oficialmente inaugurada em 27 de agosto de 1972, tendo pouco mais de 4 mil quilômetros e com boa parte do seu trajeto não pavimentado. A BR-230 ainda hoje é uma obra inacabada e, em boa parte do ano, grande parte do seu trecho na região amazônica fica praticamente intransitável.

Trecho da Transamazônica no Pará.[1]

→ Usina Nuclear de Angra dos Reis

As obras da construção da primeira usina nuclear brasileira, conhecida como Angra I, começaram em 1972, durante o milagre econômico. Ela passou a gerar energia elétrica em 1985, com produção suficiente para uma população de 1 milhão de habitantes.

Desde a sua inauguração, ela passou por diversos processos de modernização e, em 2023, bateu seu recorde de produção, com mais de 485 mil megawatts-hora. Em 2001, foi inaugura a Usina de Angra II, e, na atualidade, a Usina de Angra III está em construção.

Parte da Usina Nuclear de Angra dos Reis.[2]

Fim do milagre econômico brasileiro

Em 1973, ocorreu a Guerra do Yom Kippur, entre Israel e uma coalização de países árabes. Após a vitória de Israel, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), controlada pelos países árabes, passou a aumentar o preço do barril de petróleo, em represália aos Estados Unidos e países europeus que apoiaram Israel no conflito. Como consequência do aumento, houve a chamada crise do petróleo.

A crise do petróleo atingiu em cheio a economia dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos, e os investimentos no Brasil foram reduzidos de forma significante. A crise marcou o fim do milagre econômico brasileiro.

Saiba mais: Diretas Já — campanha popular motivada pelo fim da Ditadura Militar

Quais foram as consequências do milagre econômico brasileiro?

O milagre econômico foi possível graças aos empréstimos feitos com os bancos e outras instituições financeiras internacionais, como o FMI. Com isso, a dívida externa aumentou durante a ditadura e o Brasil passou a ter dificuldades em conseguir novos empréstimos.

Com a crise do petróleo, a economia brasileira iniciou uma crise marcada pelo aumento da inflação, do desemprego e pela queda do PIB. Em 1981, o PIB retraiu 4,25% e, em 1983, 2,93%.|4| O milagre econômico foi um dos sustentáculos da Ditadura Civil-Militar e a crise gerada por ele é considerada um dos principais motivos do fim da ditadura.

Exercícios resolvidos sobre milagre econômico brasileiro

1. (UFC-CE) O golpe militar em 1964 foi acompanhado por alterações na organização política do Brasil, como a cassação de direitos políticos, o fechamento de partidos e a censura. A partir de 1969, iniciou-se um período conhecido como “milagre” econômico brasileiro, em que predominaram os investimentos em bens de consumo duráveis, a exportação de manufaturados e a abertura do mercado ao capital estrangeiro. Foi também característica desse modelo econômico:

a) a criação da Companhia Siderúrgica Nacional.

b) o investimento de capitais nas pequenas indústrias.

c) a redução dos salários dos trabalhadores menos qualificados.

d) a extinção do Sistema Financeiro de Habitação.

e) a criação da Sudene.

Gabarito: C

O arrocho salarial dos trabalhadores foi uma das principais características do milagre econômico. Segundo o Ipea, durante a Ditadura Civil-Militar, o poder de compra do salário mínimo caiu pela metade.

2. Leia as afirmativas abaixo relacionadas ao milagre econômico.

I. Ele ocorreu durante a Ditadura Civil-Militar e foi marcado por grande crescimento do PIB.

II. Diminuiu, pela primeira vez na história do Brasil, a desigualdade social.

III. Grandes obras estatais foram construídas no período, como Itaipu e a Ponte Rio–Niterói.

Estão corretas:

a) Alternativas I e II.

b) Afirmativas I e III.

c) Todas as afirmativas.

d) Afirmativas II e III.

e) Apenas a alternativa I.

Gabarito: B

O milagre econômico foi quando a economia brasileira cresceu e grandes obras públicas foram construídas; no entanto, no período, a desigualdade social cresceu no Brasil.

Notas

|1|VELOSO, Fernando A.; VILELLA, André; GIAMBIAGI, Fabio. Determinantes do "milagre" econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbe/a/5SyG8QnVhQHdyyfKdd893mk/?lang=pt

|2|BARRUCHO, Luís. 50 anos do AI-5: Os números por trás do 'milagre econômico' da ditadura no Brasil. BBC Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45960213

|3|CANZIAN, Fernando. Milagre brasileiro teve PIB recorde e semeou década perdida. Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/milagre-brasileiro-teve-pib-recorde-e-semeou-decada-perdida.shtml#:~:text=Entre%20o%20in%C3%ADcio%20da%20ditadura,US%24%2012%2C5%20bilh%C3%B5es

|4|GAZETA DO POVO. Infográficos – PIB do Brasil. Disponível em: https://infograficos.gazetadopovo.com.br/economia/pib-do-brasil/

Créditos da imagem

[1]Wikimedia Commons

[2]Mike Peel/ Wikimedia Commons

 

Fontes

BARRUCHO, Luís. 50 anos do AI-5: Os números por trás do 'milagre econômico' da ditadura no Brasil. BBC Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45960213

CANZIAN, Fernando. Milagre brasileiro teve PIB recorde e semeou década perdida. Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/milagre-brasileiro-teve-pib-recorde-e-semeou-decada-perdida.shtml#:~:text=Entre%20o%20in%C3%ADcio%20da%20ditadura,US%24%2012%2C5%20bilh%C3%B5es

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2014.

GAZETA DO POVO. Infográficos – PIB do Brasil. Disponível em: https://infograficos.gazetadopovo.com.br/economia/pib-do-brasil/

GOMES, Angela de Castro. 1964: O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura militar no Brasil. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2014.

LIMA, Luís Octávio de. Os anos de chumbo: A militância, a repressão e a cultura de um tempo que definiu o destino do brasil. Editora Planeta, São Paulo, 2020.

VELOSO, Fernando A.; VILELLA, André; GIAMBIAGI, Fabio. Determinantes do "milagre" econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbe/a/5SyG8QnVhQHdyyfKdd893mk/?lang=pt

 

Por Jair Messias Ferreira Junior

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