Saiba quem era o Capitão do mato e sua importância na colônia.
Uma das figuras mais conhecidas na repressão aos escravos no Brasil foi a do Capitão do mato . Mas qual era sua função na sociedade escravista brasileira entre os séculos XVII e XIX? Você, leitor, sabe qual era?
O Capitão do mato era conhecido também como capitão-de-assalto-e-entrada, entre outros termos. Sua principal função era a de caçar gente, principalmente escravos fugidos das fazendas e minas pertencentes a seus senhores.
Geralmente não atuavam sozinhos, compondo em sua maior parte tropas de número variável de capitães do mato, além de atuar em conjunto às forças militares da colônia.
Ganhavam a vida caçando os escravos e entregando a seus senhores, que, em troca, retribuíam em dinheiro a entrega.
O capitão do mato surgiu na sociedade brasileira após a destruição do Quilombo do Palmares, em 1694. Com os capitães do mato, os senhores de engenho e as autoridades portuguesas pretendiam impedir fugas das fazendas e também impor o medo nos escravos caso tivessem interesse em fugir de seus cativeiros.
Porém, o capitão do mato não era muito querido na sociedade colonial e imperial brasileira. Havia muitas denúncias de que os capitães do mato roubavam escravos que não haviam fugido para poder entregá-los a seus senhores e conseguir o pagamento, burlando assim a regra de confiança entre senhores e capitães. Em alguns casos, os capitães do mato matavam cativos inocentes, gerando prejuízos aos proprietários dos escravos.
Os capitães do mato eram geralmente escravos libertos, o que garantia uma posição social superior a dos que permaneciam escravos e mesmo de pobres livres, já que estavam mais próximos dos senhores. Por outro lado, a origem escrava dos capitães do mato inflamava ainda mais a ira dos cativos contra esses caçadores, já que no passado estiveram em uma posição social semelhante.
Em virtude de sua função, o capitão do mato era um personagem de muita importância para a garantia da estabilidade social na colônia. Sem ele, possivelmente as fugas de escravos teriam sido ainda maiores, o que impedia a continuidade de existência da escravidão no Brasil colonial e imperial.
Segundo um capitão-mor da colônia, funcionário da Coroa portuguesa, o capitão do mato era necessário “à segurança interna dos Povos e ao domínio dos Senhores sobre os Escravos e malfeitores, que de outro modo ou todos [os escravos] fugiriam”. Sua atuação serviria ainda para que os escravos não se levantassem “contra o mesmo Paiz [...] devendo-se a este Corpo [de capitães-do-mato] a segurança e tranquilidade interna de todo o paiz d’America, e da sua subsistencia”. [1]
A existência do capitão do mato na história colonial e imperial mostra que a violência foi uma das características mais marcantes da formação da sociedade brasileira.
Nota.
[1] REIS, João José Reis. Quilombos e revoltas escravas no Brasil. Revista USP São Paulo (28): 14-39, Dezembro/Fevereiro 95/96. p. 17-18.
Por Tales Pinto
Mestre em História