Qual matéria está procurando ?

História

História

Abolição da escravatura no Brasil

A abolição da escravatura no Brasil foi resultado de um forte processo de mobilização popular e das fugas e rebeliões feitas pelos escravos.

A escravidão de negros permaneceu como uma forma de trabalho legalizada no Brasil até 13 de maio de 1888.* A escravidão de negros permaneceu como uma forma de trabalho legalizada no Brasil até 13 de maio de 1888.*

A abolição da escravatura no Brasil foi resultado de um processo longo, lento e concluído por meio de muita mobilização popular. Diferentemente do que os defensores da monarquia afirmavam, a abolição da escravatura não aconteceu por uma decisão de bondade da princesa Isabel, mas foi resultado de uma intensa mobilização popular que pressionou a monarquia brasileira a abolir o trabalho escravo no Brasil.

A abolição da escravatura no Brasil pode ser explicada por uma junção de fatores, destacando-se:

  1. luta abolicionista realizada pelos próprios escravos;

  2. mobilização de grupos abolicionistas que davam apoio aos escravos;

  3. mobilização política de determinada ala da sociedade brasileira.

Acesse também: Formas de resistência ao neocolonialismo no continente africano

Outros fatores também podem ser apontados em relação a esse assunto, como a pressão internacional para que o Brasil abolisse essa forma de exploração do trabalho, uma vez que a escravidão já era vista como um atraso para o padrão civilizacional que se consolidava na segunda metade do século XIX e também pelo fato de a escravidão ser um entrave para o desenvolvimento do capitalismo aqui no Brasil.

Selo comemorativo celebrando o pioneirismo do Amazonas como um dos primeiros estados a abolir o trabalho escravo.**
Selo comemorativo celebrando o pioneirismo do Amazonas como um dos primeiros estados a abolir o trabalho escravo.**

Contexto histórico

A abolição da escravatura no Brasil era um assunto que estava no centro de nossa pauta política desde que a independência do país foi conquistada em 1822. A elite econômica e política do nosso país sabia que o reconhecimento internacional da nossa independência, sobretudo no que se refere ao reconhecimento inglês, passava pela abolição do trabalho escravo.

A postura do nosso país, no entanto, foi a de postergar qualquer compromisso assumido, seja com o fim do tráfico negreiro, seja com a abolição da escravatura. Em razão do perfil e dos interesses da elite econômica do nosso país, o trabalho escravo, ao invés de ser combatido, foi reforçado.

O tráfico negreiro, por exemplo, manteve-se bastante ativo em nosso país até 1850. Seu fim só aconteceu de fato, por meio da Lei Eusébio de Queirós, em razão das pressões inglesas e do risco de guerra com a Inglaterra.

O desejo das elites escravocratas do Brasil era de que o fim do trabalho escravo fosse lento e gradual e só acontecesse quando o último escravo morresse. Foi levando essa ideia em consideração que a escravidão permaneceu legal em nosso país por mais de 38 anos após a proibição do tráfico negreiro.

O debate abolicionista no Brasil só ganhou mais força a partir da década de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai. Já no começo dessa década, registrou-se o surgimento de novas associações abolicionistas. Em virtude da atuação dessas entidades, os grupos interessados na manutenção da escravidão intervieram e optaram por soluções graduais.

Isso resultou na aprovação da Lei do Ventre Livre, aprovada em setembro de 1871 e que tinha como objetivo principal controlar a causa abolicionista. A lei funcionava da seguinte maneira: a partir daquela data, todos os filhos de escravos seriam considerados livres, mas seriam obrigados a trabalhar por um tempo como compensação. A lei estipulava que o filho do ventre da escrava seria livre:

  • aos 8 anos (nesse caso, o dono da escrava receberia uma indenização de 600 mil réis);

  • aos 21 anos (nesse caso, da escrava não receberia nenhuma indenização).

A Lei do Ventre do Livre, na ótica dos escravocratas, conseguiu alcançar seu objetivo principal: fazer o movimento abolicionista, temporariamente, perder força. O movimento só se recuperou na década de 1880, e a mobilização de parte da sociedade e dos próprios escravos foi fundamental para que a causa tivesse sucesso.

O crescimento da causa abolicionista na década de 1880 é claramente perceptível pelo crescimento do número de associações que atuavam pela causa. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling destacam a atuação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Confederação Abolicionista|1|.

Além disso, o número de publicações que faziam a defesa da causa abolicionista disparou, e pessoas influentes, como Castro Alves e Joaquim Nabuco, associaram-se à causa. Outros nomes de destaque na defesa do abolicionismo nessa década foram Luís Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, entre outros.

Nesse contexto, em defesa da abolição, a publicação de artigos e panfletos e a realização de atos públicos, como procissões e outros tipos de manifestações, tornaram-se comuns. A década de 1880, porém, viu um tipo de manifestação que foi fundamental para que a campanha tivesse sucesso: a desobediência civil.

O grande destaque nesse momento foi a própria luta dos escravos, uma vez que fugas e rebeliões tornaram-se comuns no período e demonstraram que a situação estava fora do controle das entidades governamentais. Lilia Schwarcz e Heloísa Starling destacam que, “conscientes de que a escravidão perdia a legitimidade e o consenso, grupos de escravos ganhavam em ousadia e articulação, revoltando-se fugindo, cometendo crimes, clamando por melhorias em suas condições de vida e por autonomia”|2|.

O resultado disso foi o aumento substancial na quantidade de quilombos, que surgiram para abrigar o grande fluxo de escravos fugidos de seus cativeiros. Os arredores da cidade do Rio de Janeiro e de Santos presenciaram uma quantidade enorme de quilombos formados com o intuito de, além de abrigar os escravos fugidos, organizar formas de resistência e prestar auxílio para outros escravos.

Esses quilombos são definidos pelo historiador Eduardo Silva como quilombos abolicionistas|3|, pois possuíam lideranças politicamente articuladas para fazer a intermediação entre a sociedade e os escravos fugidos, além de prestar-lhes apoio, incentivar fuga de escravos, abrigá-los em esconderijos ou deslocá-los para o Ceará (estado em que o trabalho escravo foi abolido em 1884).

O apoio e a pressão popular foram outras formas de atuação e resistência importantes. Propagandear o movimento era importante para garantir-lhe apoio. Nesse sentido, um símbolo tornou-se muito influente, e o gesto de portar esse símbolo na época tornou-se um ato político, como definem Lilia Schwarcz e Heloísa Starling|4|. Estamos falando das camélias brancas.


No final da década de 1880, a camélia branca tornou-se um símbolo dos abolicionistas no Brasil.

Essa flor era cultivada por um quilombo localizado no Leblon e foi utilizada muitas vezes para identificar abolicionistas em ações consideradas mais arriscadas.

Por fim, somado a isso, há uma questão importante. O Estado tornou-se ineficaz no combate de todas as formas de resistência à escravidão em nosso país, uma vez que polícia e Exército começaram a fazer “vista grossa” em razão da quantidade de ocorrências. Assim, o movimento abolicionista colocou-se como um “risco” para a ordem do Império, fazendo com que a manutenção da escravidão no país fosse inviável política, econômica e socialmente.

Acesse também: A abolição resolveu o problema vivido pelos negros no Brasil?

Lei Áurea


A princesa Isabel foi a responsável por assinar a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.***

Foi nesse quadro em que ocorreu a abolição da escravatura no Brasil. Ela não foi resultado da benevolência da princesa Isabel, mas fruto de uma forte pressão popular e política. O Império, sem saídas, optou por garantir a abolição da escravatura quando João Alfredo, político do Partido Conservador, propôs o projeto da Lei Áurea.

O projeto avançou e, no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, enquanto princesa regente do Brasil, assinou o documento que garantiu a abolição da escravatura de maneira imediata e sem reparação. Cerca de 700 mil escravos ganharam a sua liberdade, mas sem que medidas de integração social e econômica fossem realizadas. Isso garantiu que o negro continuasse extremamente marginalizado na sociedade brasileira.

Resumo

A abolição da escravatura foi um processo lento e gradual que se estendeu no Brasil ao longo de grande parte do século XIX. A pressão do movimento abolicionista e os distúrbios causados pelas formas de resistência e luta dos escravos forçaram o Império a abolir essa forma de trabalho.

Com a Lei Áurea, os negros permaneceram marginalizados na sociedade, uma vez que políticas de integração social e econômica não foram realizadas, e o racismo permaneceu como um problema grave na sociedade brasileira. Com a Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, aproximadamente 700 mil escravos ganharam a liberdade.

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 305.
|2| Idem, p. 308.
|3| SILVA, Eduardo. As camélias do Leblon e a abolição da escravatura. Para acessar, clique aqui.
|4| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 309.

*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock
**Créditos da imagem: irisphoto1 e Shutterstock
***Créditos da imagem: Georgios Kollidas e Shutterstock

 

Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto:

Por Daniel Neves Silva

Você pode se interessar também

Datas Comemorativas

15 de novembro – Dia da Proclamação da República

História

A abolição resolveu o problema vivido pelos negros no Brasil?

História

Capitão do mato e as fugas escravas

Datas Comemorativas

Como ficou a vida dos escravos após a Lei Áurea?

Últimos artigos

Eva Furnari

Eva Furnari é uma famosa escritora brasileira. Seus livros são divertidos e apresentam personagens mais complexos. O livro Felpo Filva é uma de suas obras mais conhecidas.

Reticências

As reticências são um sinal de pontuação que funciona como uma pequena pausa, usado para criar um efeito especial de hesitação ou de suspense na fala ou na narração.

Brasil Império

O Brasil Império foi o período em que o Brasil foi governado por uma monarquia constitucional. Nesse período, o Brasil teve dois imperadores: Dom Pedro I e Dom Pedro II.

7 Maravilhas do Mundo Antigo

As 7 Maravilhas do Mundo Antigo eram obras arquitetônicas e artísticas extraordinárias que representavam o ápice da engenhosidade e da cultura das civilizações antigas.