Conheça a origem e as características dos folhetos de cordel e descubra as histórias populares de tradição regional que formam essa literatura.
Era uma vez, uma época distante em que povos antigos usavam folhas soltas para escrever suas histórias. A época era o século XVI, e os povos eram os espanhóis e os portugueses. Antes daquele tempo, a literatura de cordel já existia na cultura greco-romana e, só mais tarde, com a vinda dos portugueses para o Brasil, aquela tradição atravessaria todo o Oceano Atlântico e aportaria em nossa pátria mãe gentil.
A primeira terra brasileira que acolheu esse tipo de texto foi Salvador, na Bahia, primeira capital do país, o que proporcionou que se espalhasse para outros estados do nordeste. Apesar disso, os autores de cordel demoraram para ser reconhecidos em sua arte. Somente em 1750, essa literatura começou a dar seus primeiros passos e foi reconhecida como poesia popular.
Toda boa história precisa de heróis, não é mesmo? Essa não é diferente. E eles foram repentistas ou violeiros que, na arte do improviso, iniciaram suas produções. Há registros que, no dia 19 de novembro de 1865, um desses heróis, Leandro Gomes de Barros, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo.
Peleja? Mas o que é isso?
Peleja é o mesmo que lutar, com ou sem armas. É uma forma regional de falar que alguém está enfrentando algo, lutando para superar algo. Entendeu?
Voltando aos heróis, muitos outros existiram, e ainda existem, depois que a literatura de cordel estabeleceu-se como manifestação popular típica, principalmente no nordeste brasileiro. Entre alguns exemplos desses heróis, temos os autores:
Apolônio Alves dos Santos;
Arievaldo Viana Lima;
Cego Aderaldo;
Elias A. de Carvalho;
Expedito Sebastião da Silva;
Patativa do Assaré.
Os textos de cordel possuem características que foram sendo construídas ao longo do tempo. A princípio, eram feitos oralmente e sem preocupação com a métrica (medida dos versos) ou com o número de versos de cada estrofe. Com o passar do tempo, foram consolidados alguns padrões para a construção dos versos dessa produção literária. Assim, como padrões, temos:
Parcela ou verso de quatro sílabas;
Verso de cinco sílabas;
Estrofe de quatro versos de sete sílabas;
Sextilhas;
Setilhas;
Oito pés de quadrão ou oitavas;
Décimas;
Martelo agalopado;
Galope à beira-mar;
Meia quadra.
Além dessas medidas dos versos, outras características fazem parte do cordel, como: linguagem coloquial, uso de humor, ironia e sarcasmo.
Os temas dessa produção são diversos e abordam o folclore brasileiro, religiosidade, profanos, políticos, temas sociais, etc.
Veja um exemplo de um texto de Patativa do Assaré.
Saudação ao Juazeiro do Norte
Patativa do Assaré
Mesmo sem eu ter estudo
sem ter do colégio o bafejo,
Juazeiro, eu te saúdo
com o meu verso sertanejo
Cidade de grande sorte,
de Juazeiro do Norte
tens a denominação,
mas teu nome verdadeiro
será sempre Juazeiro
do Padre Cícero Romão.
O Padre Cícero Romão
que, vocação celeste
foi, com direito e razão
o Apóstolo do Nordeste.
Foi ele o teu protetor
trabalhou com grande amor,
lutando sempre de pé
quando vigário daqui,
ele semeou em ti
a sementeira da fé.
E com milagre estupendo
a sementeira nasceu,
foi crescendo, foi crescendo
Muito ao longe se estendeu
com a virtude regada
foi mais tarde transformada
em árvore frondosa e rica.
E com luz medianeira
inda hoje a sementeira
cresce, flora e frutifica.
Juazeiro, Juazeiro
jamais a adversidade
extinguirá o luzeiro
da tua comunidade.
morreu o teu protetor,
porém a crença e o amor
vive em cada coração
e é com razão que me expresso
tu deves o teu progresso
ao Padre Cícero Romão
Aquele ministro amado
que tanto favor nos fez,
conselheiro consagrado
e o doutor do camponês.
contradizer não podemos
E jamais descobriremos
O prodígio que ele tinha:
Segundo a popular crença,
curava qualquer doença,
com malva branca e jarrinha.
Juazeiro, Juazeiro
tua vida e tua história
para o teu povo romeiro
merece um padrão de glória.
De alegria tu palpitas,
ao receber as visitas
de longe, de muito além,
Grande glória tu viveste!
Do nosso caro Nordeste
tu és a Jerusalém.
Sempre me lembro e relembro,
não hei de me deslembrar:
O dia 2 de Novembro,
tua festa espetacular
pois vem de muitos Estados
os carros superlotados
conduzindo os passageiros
e jamais será feliz
aquele que contradiz
a devoção dos romeiros.
No lugar onde se achar
um fervoroso romeiro,
ai daquele que falar,
contra ou mal, do Juazeiro.
Pois entre os devotos crentes,
velhos, moços e inocentes,
a piedade é comum,
porque o santo reverendo
se encontra ainda vivendo
no peito de cada um.
Tu, Juazeiro, és o abrigo
da devoção e da piedade.
Eu te louvo e te bendigo
por tua felicidade,
me sinto bem, quando vejo
que tu és do sertanejo
a cidade predileta.
Por tudo quanto tu tens
recebe estes parabéns
do coração de um poeta.
Afinal, por que o nome cordel?
Porque esses textos são escritos em folhetos e pendurados em barbantes ou cordas, por isso, recebem o nome de cordel.
Essas produções ganharam tanta importância na representação da riqueza histórica, cultural, social e artística do povo nordestino que até formaram uma academia específica para essa literatura, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, localizada no Rio de Janeiro, que, atualmente, é presidida por Gonçalo Ferreira da Silva.
Quer conhecer outros folhetos de cordel como o do autor Pativa do Assaré? Esses são alguns que você pode encontrar digitalizados na Web: Labareda – O Capador de Covardes; História da Rainha Esther; O Sabido sem Estudo; A Morte de Chico Mendes Deixou Triste a Natureza; entre outros. Divirta-se com a leitura!