Embarque em uma viagem rápida e divertida! Leia três contos curtinhos!
Você sabe o que é um conto?
O conto é um tipo de história literária. Geralmente, é uma obra de ficção, ou seja, de faz de conta, pois retrata um mundo de fantasia a partir da imaginação de quem o escreveu. O conto tem narrador e um enredo, isto é, uma história que vai se desenvolver com começo, meio e fim.
O que faz do conto um conto é o seu tamanho. Diferente de outros textos, o conto costuma ser pequeno, menor que um romance, mas apesar de ser pequeno, ele apresenta uma estrutura fechada e um clímax, que é o momento de tensão da história. São poucos os personagens do conto, mesmo porque não haveria tempo para que várias histórias de vários personagens fossem desenvolvidas.
Para você entender melhor o que é um conto, nada melhor do que aprender na prática, certo? Selecionamos para você três contos muito legais de autores que se dedicaram à literatura infantil e que farão você sentir vontade de conhecer cada vez mais sobre o gênero. Boa leitura!
Viva a paz!
(Tatiana Belinky)
Dois gatinhos assanhados
se atracaram, enfezados.
A dona se irritou
e a vassoura agarrou!
E apesar do frio, na hora,
os varreu porta afora,
bem no meio do inverno,
com um frio "do inferno"!
Os gatinhos, assustados,
se encolheram, já gelados,
junto à porta, no jardim,
aguardando o triste fim!
O conto é um tipo de narrativa que costuma ser curtinho, mas apresenta começo, meio e fim
De terror acovardados,
os dois gatinhos, coitados,
não puderam nem miar,
lamentando tanto azar!
Sem ouvir nenhum miado,
a dona, por seu lado,
dos gatinhos teve dó,
e a porta abriu de uma vez só!
Mesmo estando tão gelados,
os dois gatinhos arrepiados
Zás! Bem junto do fogão
surgem, sem reclamação!
E a dona comentou:
tanto faz quem começou!
Uma encrenca boba assim
bom é que tenha logo um fim!
E ela acrescentou, então,
não querem brigar mais, não?
E os gatinhos, enroscados,
esqueceram da briga, aliviados.
Confortados, no quentinho,
com sossego e com carinho,
dormem bem, bichos queridos,
já da briga esquecidos.
Bruxas não existem
(Moacyr Scliar)
Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de "bruxa".
Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.
Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando "bruxa, bruxa!".
Geralmente, os contos contam uma história de faz de conta, apresentando personagens nascidos na imaginação do autor
Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.
- Vamos logo - gritava o João Pedro -, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.
E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.
Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.
- Está quebrada - disse por fim. - Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.
Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. "Chame uma ambulância", disse a mulher à minha mãe. Sorriu.
Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana Custódio.
Caixinha mágica
(Roseana Murray)
Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não
cabe em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
Os contos podem vir em forma de prosa ou em forma de versos. Podem, inclusive, ter um monte de rimas!
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio
e, para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.
O que é que você quer
esconder na minha caixa?
Por Luana Castro
Graduada em Letras
Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto: