A Revolução de Avis foi resultado da crise dinástica que afetou Portugal entre 1383 e 1385. Dessa revolução surgiu a dinastia de Avis, que governou o país até o século XVI.
A Revolução de Avis, também conhecida como Crise de 1383, refere-se à sucessão de eventos e conflitos que aconteceram em Portugal e que resultaram no fim da Dinastia Afonsina e no começo da Dinastia de Avis. Essa revolução resultou na coroação de João, Mestre de Avis, como D. João I e rei de Portugal no ano de 1385.
O surgimento de Portugal enquanto nação relacionou-se diretamente com as Guerras de Reconquista, nas quais os cristãos da Península Ibérica iniciaram uma luta para expulsar os mouros, que invadiram e fixaram-se na península no século VIII. À medida que os mouros eram expulsos, novos reinos surgiam na península.
Portugal surgiu de fato quando D. Afonso Henriques, filho de Henrique da Borgonha, declarou a independência do Condado Portucale e o fim da relação de vassalagem com o Reino de Leão. Além de ter proclamado a independência de Portugal em 1139, D. Afonso Henriques também se declarou rei de Portugal e deu início à Dinastia Afonsina.
Apesar de independente, Portugal ainda não havia concluído a sua formação territorial – processo que se estendeu para o século XIII, quando os mouros foram expulsos de Algarve, região ao sul de Portugal que ainda não tinha sido reconquistada. Ainda que concluída sua formação territorial, Portugal sempre esteve à sombra do Reino de Castela, um reino vizinho que alimentava ambições de conquistar o território português.
Uma crise na Dinastia Afonsina no final do século XIV colocou a independência portuguesa em xeque. Nesse período, o Reino de Castela tentou conquistar o trono de Portugal.
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Até 1383, Portugal era governado por D. Fernando I, rei que havia herdado o trono de seu pai, D. Pedro I. O reinado de D. Fernando I, no entanto, não era muito popular entre o povo português, pois ele se casara com D. Leonor Teles, que já havia sido casada.
Do casamento de D. Fernando I e Leonor Teles, nasceu a princesa Beatriz, que, com 11 anos de idade, foi oferecida em casamento para João I de Castela, o rei do Reino de Castela, como uma maneira de encerrar as guerras travadas entre Portugal e Castela (somente no reinado de D. Fernando I, foram travadas três guerras contra Castela).
A situação de Portugal ficou dramática depois que o rei D. Fernando I morreu em 1383. O rei português não possuía um herdeiro do sexo masculino, sendo assim, a lei portuguesa determinava que Portugal seria governado por D. Leonor Teles até que a princesa Beatriz tivesse um herdeiro e este completasse 14 anos de idade.
D. Leonor Teles tornou-se a regente de Portugal, mas logo se iniciaram conspirações contra a regente. As conspirações contra Leonor Teles foram precedidas por uma série de rebeliões, e os conspiradores – formados em grande parte pela burguesia portuguesa – planejaram assassinar Conde Andeiro, suposto amante de Leonor Teles.
Percebendo que sua posição estava ameaçada, D. Leonor solicitou o auxílio de sua família e do rei de Castela, João I de Castela. O apoio do rei de Castela à Leonor Teles foi visto com grande alarmismo pela burguesia portuguesa, que via nesse ato uma ameaça à independência de Portugal, pois, caso João I de Castela assumisse o trono, poderia unificar os territórios de Portugal com os territórios de Castela. O envolvimento de João I de Castela na crise dinástica portuguesa contava com o apoio de grande parte da nobreza de Portugal.
A burguesia portuguesa e a população de Lisboa escolheram João, Mestre de Avis, para liderar a defesa de Portugal contra as pretensões castelhanas. O Mestre de Avis era filho bastardo do rei Pedro I, portanto, irmão bastardo do falecido D. Fernando I. Além disso, o Mestre de Avis foi o responsável pelo assassinato do amante de D. Leonor Teles.
Com isso, Portugal dividiu-se em duas facções: uma apoiando João I de Castela e D. Leonor Teles e outra apoiando João, Mestre de Avis. Essa crise dinástica de Portugal iniciou-se em 1383 e estendeu-se até 1385. Esse período em que Portugal não possuiu reis governando o país ficou conhecido como interregno.
O racha interno em Portugal proporcionado pela crise dinástica arrastou o país para a guerra. Essa guerra contou com o envolvimento indireto de outras nações, pois os franceses começaram a apoiar João I de Castela, e os ingleses começaram a apoiar o Mestre de Avis. Um dos episódios marcantes dessa guerra entre portugueses e castelhanos foi o cerco de Lisboa, em 1384.
Lisboa, capital de Portugal, foi cercada por tropas castelhanas em 1384 durante cerca de três meses. Os castelhanos, porém, foram obrigados a se retirar quando suas tropas foram atacadas por um surto de peste, que matou milhares de soldados. A derrota em Lisboa, no entanto, não colocou fim às ambições castelhanas, assim, novas batalhas aconteceram.
O ponto alto dessa guerra ocorreu na Batalha de Aljubarrota, em 14 de agosto de 1385. Essa batalha foi extremamente relevante, pois marcou o fim das pretensões de Castela sobre Portugal. Em Aljubarrota, as tropas castelhanas, mesmo numericamente superiores, foram derrotadas pelas tropas portuguesas, lideradas por D. Nuno Álvares Pereira.
Atribui-se a vitória dos portugueses a uma tática defensiva que permitia às tropas numericamente inferiores dos portugueses suportar uma série de ataques castelhanos. O papel de D. Nuno Álvares na liderança também é entendido como fundamental pelos historiadores. Com a derrota em Aljubarrota, as tropas de Castela fugiram de Portugal.
Nesse ínterim, João, Mestre de Avis, teve seu papel de líder consolidado em Portugal. O resultado foi que, após derrotar os castelhanos, o Mestre de Avis foi proclamado rei em 1385. Foi iniciada nesse momento a dinastia de Avis, que esteve no poder de Portugal até o ano de 1580. Uma vez coroado, o Mestre de Avis tornou-se João I de Portugal e reinou até o ano de 1433.
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A Revolução de Avis foi extremamente importante por consolidar de maneira definitiva a formação de Portugal e afastar de vez as ambições dos castelhanos. Portugal e Castela só firmaram paz novamente em 1411. A Revolução de Avis também foi responsável por consolidar Portugal politicamente e garantir que o país focasse no seu desenvolvimento econômico.
Com a estabilidade política, os reis portugueses garantiram apoio para o desenvolvimento da burguesia e, assim, o comércio de Portugal cresceu consideravelmente. A estabilidade política instaurada por meio da Revolução de Avis também garantiu o investimento no desenvolvimento náutico, elemento fundamental para a expansão marítima que o país encabeçou no século XV.