A Revolta da Chibata foi uma revolta nativista realizada no Brasil em novembro de 1910. Foi protagonizada por marinheiros da Marinha do Brasil.
A Revolta da Chibata foi uma revolta nativista realizada em 1910 e liderada por marinheiros da Marinha do Brasil que, insatisfeitos com as condições desumanas e o uso de punições corporais, se rebelaram exigindo o fim das chibatadas e melhores condições de trabalho. No contexto de um Brasil que ainda refletia as profundas desigualdades sociais e raciais do período escravocrata, os marinheiros, em sua maioria negros e mestiços, enfrentavam práticas disciplinares arcaicas, como a chibata.
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A Revolta da Chibata foi uma revolta nativista ocorrida no Brasil em novembro de 1910, protagonizada por marinheiros da Marinha do Brasil. Insatisfeitos com as condições desumanas a que eram submetidos, os marinheiros se rebelaram contra o uso de punições corporais, como a chibata, que ainda eram aplicadas como forma de disciplina.
O episódio destacou-se pelo simbolismo de resistência dos marinheiros, muitos dos quais eram negros ou mestiços, contra um sistema que perpetuava práticas herdadas da escravidão, abolida oficialmente em 1888. A revolta culminou em um motim que tomou o controle de várias embarcações da Marinha, exigindo mudanças imediatas nas condições de trabalho e o fim das punições físicas.
O Brasil do início do século XX passava por um processo de transformação e modernização, especialmente no período pós-Proclamação da República, em 1889. No entanto, o processo de transformação e modernização do Brasil foi desigual, mantendo-se estruturas sociais e econômicas que marginalizavam as classes mais baixas, especialmente os negros e mestiços.
A Marinha do Brasil, mesmo sendo uma das forças armadas mais importantes do país, refletia essas desigualdades. A tripulação era formada, em sua maioria, por homens negros e mestiços, ex-escravizados ou descendentes de escravizados, enquanto os oficiais eram majoritariamente brancos e pertencentes às classes mais altas.
Além disso, a Marinha ainda adotava práticas disciplinares herdadas do período escravocrata, como o uso da chibata, uma espécie de chicote, para punir infratores. Essa prática era uma das mais degradantes e foi amplamente utilizada durante a escravidão. O uso da chibata na Marinha, mesmo após a abolição, representava a perpetuação de uma estrutura de opressão racial. O governo de Hermes da Fonseca, que havia assumido a presidência em 1910, estava focado em manter a ordem e a hierarquia, sem questionar essas práticas.
As causas da Revolta da Chibata foram diversas e enraizadas nas profundas desigualdades sociais e raciais do Brasil da época. Em primeiro lugar, a péssima qualidade de vida a que os marinheiros eram submetidos foi um fator determinante. As condições de trabalho nos navios da Marinha eram extremamente precárias, com péssima alimentação, longas jornadas de trabalho e acomodações insalubres. A disciplina era mantida por meio de castigos físicos, especialmente a chibata, que humilhava e degradava os marinheiros, remetendo-os às práticas da escravidão.
Outro fator crucial foi o sentimento de injustiça e discriminação racial. A maioria dos marinheiros era composta por negros e mestiços, que, mesmo após a abolição da escravidão, continuavam a ser tratados como cidadãos de segunda classe. A chibata, nesse contexto, não era apenas um instrumento de disciplina, mas um símbolo do racismo institucionalizado na Marinha e na sociedade brasileira em geral. Além disso, o governo da época, sob Hermes da Fonseca, não demonstrava interesse em reformar essas práticas, o que alimentou ainda mais o descontentamento entre os marinheiros.
Os objetivos da Revolta da Chibata eram claros e diretos: os marinheiros exigiam o fim imediato das punições físicas na Marinha, especialmente o uso da chibata, e a melhoria das condições de trabalho a bordo dos navios. Além disso, eles demandavam anistia para todos os envolvidos no motim, uma vez que sabiam que, ao se rebelarem, estavam sujeitos a severas punições, incluindo a pena de morte, de acordo com as leis militares da época.
Essas exigências refletiam o desejo dos marinheiros por dignidade e respeito, algo que lhes havia sido negado mesmo após a abolição da escravidão. O movimento não buscava uma mudança estrutural no governo ou uma revolução social, mas a eliminação de práticas arcaicas e desumanas que persistiam em pleno século XX. A Revolta da Chibata foi, portanto, um grito por justiça e igualdade dentro das Forças Armadas, um pedido para que os Direitos Humanos fossem respeitados independentemente da cor da pele ou da origem social dos marinheiros.
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O motim da Revolta da Chibata teve início em 22 de novembro de 1910, a bordo do encouraçado Minas Geraes, um dos navios mais poderosos da Marinha Brasileira. Os marinheiros, liderados por João Cândido Felisberto, tomaram o controle do navio, matando alguns dos oficiais e aprisionando outros. Em seguida, a revolta se espalhou para outros navios da esquadra, incluindo o São Paulo e o Bahia. Com esses navios sob seu controle, os marinheiros tinham nas mãos um poder de fogo considerável, capaz de destruir a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal.
Os revoltosos enviaram um manifesto ao governo, no qual expunham suas demandas e ameaçavam bombardear a cidade caso suas exigências não fossem atendidas. O governo, inicialmente surpreso e sem capacidade militar para enfrentar os revoltosos, começou a negociar. A ameaça dos marinheiros era real, e o governo sabia que, se os navios começassem a disparar contra a cidade, o resultado seria catastrófico.
Após quatro dias de tensão, o governo cedeu e prometeu atender às exigências dos marinheiros, incluindo a concessão de anistia. Com a promessa de que suas demandas seriam atendidas, os marinheiros devolveram o controle dos navios às autoridades, encerrando o motim sem maiores incidentes.
O principal líder da Revolta da Chibata foi João Cândido Felisberto, que ficou conhecido como o Almirante Negro. Nascido em 1880, no Rio Grande do Sul, João Cândido era filho de ex-escravizados e ingressou na Marinha ainda jovem. Sua liderança foi crucial para o sucesso inicial do motim, pois ele conseguiu articular e unir os marinheiros em torno de um objetivo comum, apesar das diferenças internas e da repressão que sabiam que enfrentariam.
Outros líderes importantes incluíram Francisco Dias Martins, conhecido como Mão Negra, que atuou como um dos principais articuladores do movimento, e Alexandre Soares, que também teve papel de destaque na organização e na tomada das embarcações. Esses líderes, todos oriundos das classes mais baixas e, em sua maioria, negros, simbolizaram a luta contra a opressão racial e social dentro das Forças Armadas.
Apesar do sucesso inicial, a história desses líderes não teve um final feliz. João Cândido e outros líderes foram presos após a revolta e sofreram com a repressão do governo. Muitos foram torturados, e João Cândido, embora tenha sobrevivido, foi expulso da Marinha e viveu o restante de sua vida em condições precárias, sem nunca receber o reconhecimento merecido durante sua vida.
As consequências da Revolta da Chibata foram profundas e tiveram desdobramentos tanto imediatos quanto em longo prazo. Imediatamente após a revolta, o governo concedeu a anistia prometida, e o uso da chibata foi oficialmente abolido na Marinha. No entanto, a promessa de anistia foi quebrada pouco depois pelo governo, e muitos dos marinheiros envolvidos na revolta foram presos, deportados ou assassinados. A repressão foi dura, e o governo tentou, com sucesso parcial, apagar da história oficial qualquer menção ao movimento e aos seus líderes.
No longo prazo, a Revolta da Chibata deixou um legado simbólico importante. Ela foi um dos primeiros movimentos organizados de resistência ao racismo e à opressão social no Brasil republicano, servindo de inspiração para futuras gerações de ativistas e movimentos sociais. A figura de João Cândido Felisberto se tornou um ícone da luta pelos direitos dos negros no Brasil, embora o reconhecimento oficial tenha demorado décadas para acontecer.
O episódio também expôs as tensões sociais e raciais persistentes na sociedade brasileira, que, apesar da abolição da escravidão, continuava a tratar os negros e pobres com brutalidade e desprezo. A Revolta da Chibata, portanto, foi não somente uma insurreição militar como também um marco na luta por justiça social e igualdade racial no Brasil.
Questão 1
No início do século XX, o Brasil ainda enfrentava grandes desigualdades sociais e raciais, resquícios do período escravocrata. A Revolta da Chibata pode ser interpretada como uma expressão de resistência contra:
A) a abolição da escravidão no Brasil, que trouxe instabilidade social para os trabalhadores da Marinha.
B) a imposição de práticas disciplinares severas que eram comuns nas forças armadas europeias no início do século XX.
C) a perpetuação de práticas racistas e autoritárias no Brasil republicano, que continuava a tratar os negros e mestiços de forma degradante.
D) o processo de modernização da Marinha, que exigiu a substituição de marinheiros experientes por novos recrutas.
E) a falta de reconhecimento dos direitos civis dos marinheiros brasileiros por parte das potências estrangeiras que influenciavam a política nacional.
Resolução:
Alternativa C
A Revolta da Chibata foi motivada pela resistência dos marinheiros contra a continuidade de práticas racistas e degradantes na Marinha do Brasil, que ainda usava castigos físicos, como a chibata, como forma de disciplina. Essa revolta pode ser vista como uma luta contra a persistência de estruturas de poder que mantinham os negros em condições de subordinação, mesmo após a abolição da escravidão.
Questão 2
Durante a Revolta da Chibata, os marinheiros da Marinha do Brasil rebelaram-se principalmente devido:
A) à influência de potências estrangeiras que incentivaram os marinheiros a se revoltarem contra o governo brasileiro.
B) à insatisfação com o tratamento desumano e as punições corporais, como a chibata, que refletiam práticas herdadas do período escravocrata.
C) à vontade de transformar o Brasil em uma monarquia como forma de reverter as mudanças republicanas que marginalizavam os militares.
D) ao desejo de promover uma revolução social que instaurasse um regime socialista no Brasil.
E) à substituição dos marinheiros experientes por novos recrutas, o que gerou instabilidade e conflitos internos na Marinha.
Resolução:
Alternativa B
A alternativa B destaca a principal causa da Revolta da Chibata: a insatisfação dos marinheiros com as condições desumanas e as punições corporais, como a chibata, que ainda eram praticadas na Marinha do Brasil no início do século XX.
Fontes
MOREL, Edmar. A revolta da chibata. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 216 p.
SILVA, Nei Lopes; BARRETO, Tânia. João Cândido e os navegantes negros: das galés à abolição. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Expressão Popular, 2022. 320 p.