Josef Stalin ficou marcado na história como um dos ditadores mais conhecidos de todo século XX. Stalin era um georgiano que atuou com os bolcheviques durante a Revolução Russa de 1917. Ascendeu nos quadros do Partido Comunista como um excelente burocrata e isso acabou levando-o ao poder da União Soviética depois que Lenin faleceu.
Stalin tornou-se governante da União Soviética oficialmente, a partir de 1927, e impôs um regime ditatorial de fato. Ao longo de quase três décadas no poder, Stalin comandou um regime de terror, perseguindo minorias étnicas, opositores ideológicos e até apoiadores fazendo com que milhões de pessoas fossem mortas.
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Stalin nasceu no dia 18 de dezembro de 1878, em Gori, cidade localizada na atual Geórgia, que na época era um território do Império Russo. Seu nome de nascimento era Iosif Vissarionovich Dzhugashvili. O pai de Stalin chamava-se Vissarion Dzhugashvili (conhecido como Besso) e sua mãe chamava-se Ekaterina Georgievna Geladze (conhecida como Keke).
A família de Stalin era bastante humilde, uma vez que seu pai era um sapateiro e sua mãe exerceu ofícios de lavadeira, faxineira e ama de leite. O casamento de Besso e Keke foi um casamento problemático, pois o pai de Stalin era um alcoólatra que constantemente surrava sua esposa e filho. Isso acabou fazendo com Besso e Keke separassem-se anos depois.
O pai de Stalin desejava que seu filho seguisse o ofício de sapateiro, mas sua mãe desejava que ele fosse sacerdote religioso do cristianismo ortodoxo. Isso fez com que Stalin ingressasse em uma escola religiosa localizada em Tíflis (chamada atualmente de Tbilisi) durante sua adolescência. Nos primeiros dezesseis anos de sua vida, Stalin foi criado e educado em Gori.
Apesar dos desejos de sua mãe, Stalin nunca foi um devoto do cristianismo. Alguns biógrafos de Stalin relatam que, desde sua adolescência, ele demonstrava pouca afeição com a religião e manifestava sua falta de crença abertamente. Uma marca importante da adolescência de Stalin é que os seus registros enquanto aluno em Gori são de que ele era um bom aluno.
Durante os anos no seminário religioso, Stalin foi afetado pelo clima político que agitava a Geórgia, sobretudo por conta do fortalecimento do movimento separatista na região. Durante seus anos de estudo, Stalin associou-se com um grupo de orientação social-democrata que era chamado Messame Dasi (traduzido como “terceiro grupo”).
Em 1899, Stalin foi expulso do seminário religioso após não realizar os exames de final de ano letivo. Durante o seminário, tinha tido contato com leituras e debates marxistas que lhe deram início à sua trajetória como revolucionário. Tempos depois, ele ingressou no Partido Operário Social-Democrata Russo e passou a trabalhar no observatório de meteorologia de Tíflis.
Esse emprego de Stalin era uma fachada para esconder a sua atividade revolucionária. Como militante, Stalin atuava clandestinamente na organização de passeatas de operários. Tempos depois foi designado para conduzir grupos de estudo para ensinar conceitos básicos de marxismo aos trabalhadores. Em 1901, foi notado pela primeira vez pelas autoridades russas e passou a ser perseguido pela polícia secreta.
No ano seguinte, em 1902, Stalin foi preso durante ações que realizava em Batum. Por conta dessa prisão, Stalin passou um tempo em uma prisão em Batum e Kutaissi, ambos na Geórgia, e depois foi enviado para o exílio na Sibéria. Esse foi o primeiro de sete exílios que Stalin enfrentou ao longo de sua vida.
Durante o exílio de Stalin, os social-democratas na Rússia acabaram dividindo-se em dois grandes grupos. De um lado, estavam os revolucionários bolcheviques e, do outro, um grupo de socialistas moderados que levou o nome de mencheviques. Nessa divisão, Stalin ficou alinhado com os bolcheviques. Em fevereiro de 1904, Stalin fugiu do seu exílio e retornou para Tíflis, na Geórgia.
A partir de então, passou a coordenar ações revolucionárias em três cidades importantes do Cáucaso: Tíflis, Baku e Batum. Na Revolução de 1905, Stalin escreveu folhetos para incitar os trabalhadores e esteve envolvido com a organização de camponeses. A repressão russa às manifestações no Cáucaso foram consideravelmente violentas. Ainda em 1905, algo marcante aconteceu na vida de Stalin: ele conheceu pessoalmente Vladimir Lenin, durante uma conferência em Tampere, na Finlândia.
Nos 12 anos que separam a Revolução de 1905 da Revolução Bolchevique, Stalin envolveu-se com inúmeras ações revolucionárias e, em consequência delas, foi preso e enviado para exílio várias vezes. Essas ações, por sua vez, fizeram com que ele se tornasse um membro importante dos bolcheviques e, a partir de 1912, foi convidado a participar do Comitê Central dos Bolcheviques.
A partir de 1912, tornou-se o responsável pela edição do jornal revolucionário bolchevique chamado “Pravda”. À frente desse jornal, passou a assinar seus artigos com o pseudônimo de Stalin, termo em russo que significa “feito de aço”. Foi com esse pseudônimo que o georgiano ficou conhecido internacionalmente.
Durante a Revolução de Outubro, a revolução que levou os bolcheviques ao poder na Rússia, em outubro de 1917, os biógrafos contam que Stalin esteve envolvido com funções burocráticas e não teve participação em ações de rua em Petrogrado (atual São Petersburgo). Depois que Lenin assumiu o poder da Rússia, Stalin passou a integrar cargos administrativos importantes.
De 1918 a 1922, esteve à frente do Comissariado do povo para as Nacionalidades e, nesse período, era um dos quatro homens mais importantes da União Soviética junto de Lenin, Trotsky e Sverdlov. Também teve atuação importante durante os anos da Guerra Civil Russa e foi enviado para o sul da Rússia para coordenar ações contra os Brancos.
Em 1920, foi nomeado para a Comissão para Inspeção Operária e Camponesa e seguiu acumulando cargos nos anos seguintes. A historiadora Lilly Marcou destaca que, em 1922, Stalin tinha inúmeras funções no interior do Partido Comunista Russo e era membro do Politburo (comitê do partido), do Orgburo (subcomitê do Politbuto responsável por decisões relacionadas ao trabalho) e era secretário-geral do partido. Além disso, ocupava as duas comissões citadas anteriormente e ainda participava de outros conselhos|1|.
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A partir de 1923, a saúde de Lenin declinou rapidamente e ele acabou falecendo no início de 1924 por conta de um derrame. Durante o ano de 1923, Lenin já tentou organizar a sucessão da União Soviética e chegou a recomendar que Stalin fosse afastado do cargo de secretário-geral por ser muito grosseiro.
Stalin foi um dos postulantes a suceder Lenin e, em 1924, chegou a oferecer sua demissão do posto de secretário-geral, mas seus adversários Trotsky, Kamenev e Zinoviev recusaram-se a aceitar a demissão do georgiano. Foi um erro estratégico gigantesco da parte dos três que passaram a ser perseguidos por Stalin anos depois.
Stalin conseguiu firmar-se no comando da União Soviética, porque durante anos atuou como burocrata no interior do partido e isso garantiu-lhe um apoio considerável na década de 1920, depois da morte de Lenin. Em 1927, os três adversários de Stalin foram expulsos do Partido Comunista e, com isso, Stalin foi oficializado como governante da União Soviética.
Uma vez estabelecido como governante, Stalin impôs um dos regimes totalitários mais conhecidos de todo o século XX. O regime de Stalin, conhecido como stalinismo, foi um regime responsável pela morte de até 20 milhões de pessoas. Stalin perseguiu minorias étnicas, opositores de seu regime e sua paranoia o levou a ordenar que matassem até pessoas que apoiavam seu regime.
Stalin realizou muitas reformas na União Soviética, realizando a industrialização do país e promovendo a coletivização da agricultura. A industrialização ocorreu por meio dos Planos Quinquenais, planos que estipulavam metas que deveriam ser alcançadas em um prazo de cinco anos.
A coletivização aconteceu pela estatização das terras agrícolas da União Soviética e a perseguição dos fazendeiros ricos da União Soviética. Na coletivização não trouxe os resultados esperados, pois desorganizou a produção agrícola soviética e fez com que milhares de pessoas morressem de fome, principalmente na Ucrânia soviética.
O regime de Stalin também ficou marcado pela perseguição às minorias, sobretudo aos poloneses. Esses grupos eram enviados para campos de trabalho forçado (conhecidos como Gulags), ou então eram enviados para serem fuzilados. Além de minorias étnicas, Stalin ordenou a perseguição de classes ricas da União Soviética e pessoas que teciam críticas ao regime.
Na década de 1930, Stalin realizou o Grande Expurgo, uma perseguição em massa que resultou na morte de milhares de pessoas. Stalin possuía uma paranoia de que todos conspiravam para derrubá-lo do poder e isso fez com que ele ordenasse a execução de pessoas próximas a ele. Alas do exército e o interior do Partido Comunista foram desfiguradas com inúmeros de seus membros sendo executados.
Stalin também ficou marcado por liderar a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos envolveram-se em episódios polêmicos nesse conflito como o massacre de poloneses, em 1940, a guerra contra a Finlândia e a aliança com os nazistas em 1939. A partir de 1941, os soviéticos envolveram-se na luta contra os alemães.
Stalin conseguiu encarnar o espírito de resistência nos cidadãos soviéticos e ordenou a transferência de inúmeras fábricas soviéticas para o leste do país e a convocação de milhões de soldados. Em 1945, em um ato de vingança, conseguiu que somente as tropas soviéticas envolvessem-se no ataque final contra Berlim, a capital da Alemanha.
Após a guerra, Stalin ascendeu ao quadro de heróis nacionais da União Soviética e foi enxergado como o grande responsável por conduzir seu país à vitória na Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, ainda se envolveu, de maneira secreta, na Guerra da Coreia, conflito travado entre 1950 e 1953.
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Na década de 1950, a saúde de Stalin começou a se deteriorar rapidamente e ele manifestou inúmeros problemas. Em 1º de março de 1953, Stalin teve um derrame e o pouco cuidado que teve no período fez com que ele falecesse em 5 de março de 1953. Lilly Marcou caracteriza a morte de Stalin como consequência de uma omissão de socorro.
Depois que Stalin morreu, o poder soviético passou para Nikita Kruschev. O novo governante soviético colocou fim ao culto de Stalin por meio das denúncias dos crimes dele durante os quase 30 anos no poder. As denúncias de Kruschev deveriam ter sido secretas, mas acabaram sendo expostas e tornando-se conhecidas internacionalmente.
Ao longo de sua vida, Stalin casou-se duas vezes. Sua primeira esposa foi Ekaterina Svanidze (conhecida como Kato), irmã de um colega de Stalin no seminário religioso em Tíflis. Em 1906, casou-se secretamente com Kato e desse casamento tiveram um filho, chamado Yakov Dzhugashvili. Em 1907, a esposa de Stalin faleceu de tifo e o filho de Stalin foi criado pela irmã de sua esposa.
Em 1919, Stalin casou-se novamente. Sua segunda esposa chamava-se Nadezhda Alliluyeva, uma jovem azeri de 18 anos que trabalhava como secretária de Stalin. Nadezhda e Stalin tiveram dois filhos chamados Vasily e Svetlana. O casamento dos dois, no entanto, foi infeliz e, em 9 de dezembro de 1932, Nadezhda cometeu suicídio.
Créditos da imagem
[1] Kiev.Victor / Shutterstock
Notas
|1| MARCOU, Lilly. A vida privada de Stalin. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.