Saiba a origem de algumas expressões linguísticas comumente usadas no cotidiano.
Você já deve ter escutado alguém dizer que “jura de pés juntos” que tal situação é verdadeira. Ou mesmo ter ouvido, ao andar pelas ruas de alguma cidade, alguém gritar: “motorista barbeiro”! Estas expressões fazem parte da fraseologia brasileira e também europeia, tendo elas origem em alguma situação histórica, ou em hábitos de vida praticados pelas populações, e que talvez hoje tenham sido esquecidos.
Com o objetivo de relembrar essas origens serão apresentadas abaixo três expressões comuns no cotidiano de vida dos brasileiros.
Tirar o cavalo da chuva
Geralmente usa-se esta expressão para demover uma pessoa de alguma intenção que ela tenha e seja difícil de realizar. Porém, o uso antigamente era distinto. Segundo o linguista Reinaldo Pimenta, no livro A casa da Mãe Joana, a expressão “tirar o cavalo da chuva” estava relacionada a hábitos de locomoção e de recepção das pessoas nos ambientes domésticos. Como até o século XIX o cavalo era um dos meios de locomoção mais práticos, era com ele que as pessoas se deslocavam. Quando alguém iria visitar um amigo ou parente, o local utilizado para amarrar o cavalo indicava a intenção do tempo de permanência do visitante.
Colocar a montaria na frente da casa era indício de visita rápida. Por outro lado, se colocasse em local protegido da chuva era sinal de prosa demorada. Mas colocar o cavalo em local protegido sem autorização do dono da casa era indecoroso, sendo necessário esperar o aval do anfitrião para guardar adequadamente o animal. Em situação de conversa boa e animada, o anfitrião dizia: “pode tirar o cavalo da chuva”, indicando que o papo iria demorar, autorizando a acomodação do cavalo em local protegido.
Jurar de pés juntos
Esta expressão é de origem europeia e está ligada às práticas de torturas utilizadas pela Inquisição para conseguir obter confissões de acusados de heresia. A prática de tortura consistia em amarrar os suspeitos pelos pés e mãos, suspendê-los no teto pelos pés, ou mesmo pregá-los em postes de madeira, sempre com os pés juntos um ao outro. Assim, buscavam os inquisidores arrancar as confissões.
A promessa era dizerem sempre a verdade a qualquer das perguntas feitas. Em Portugal se fala “jurar a pés juntos” e “negar a pés juntos”, e na Espanha, o sentido da expressão é de acreditar cegamente em tudo, falando “crer com os pés juntos”.
Motorista Barbeiro
Esta expressão, também de origem europeia, está relacionada ao fato dos barbeiros realizarem muitas atividades, até o século XIX, além de cortar cabelos e barbas. Faziam sangrias utilizando sanguessugas, cortavam calos e extraiam dentes. Como não eram peritos nestas funções, era comum errarem e deixarem marcas permanentes nas pessoas.
Segundo o linguista José Augusto Carvalho, desde o século XV a expressão “coisa de barbeiro” servia para indicar a infelicidade cometida em algum serviço feito por uma pessoa que não era especialista na área. Esta expressão chegou ao Brasil através dos portugueses. Mas chamar um motorista de barbeiro é uma construção genuinamente brasileira.
Por Tales Pinto
Graduado em História