Conheça um pouco sobre a discussão em torno do tema da objetividade em História, se há ou se não há, se é positivo ou negativo.
Quando cursamos os últimos anos do Ensino Fundamental e nos preparamos, consequentemente, para entrar no Ensino Médio, entramos em contato com as chamadas “ciências duras”, isto é, disciplinas como Física e Química. Essas ciências também são conhecidas pelo velho nome de “Ciências Exatas”, nome esse que exprime sua principal característica: a exatidão. Associado ao conceito de exatidão temos o conceito de objetividade ou de método objetivo para alcançar um resultado preciso e exato. Pois bem, em se tratando de História, ou da “Ciência da História”, podemos dizer que há também esse tipo de objetividade?
Para tentarmos responder a essa questão, é necessário, inicialmente, refletir um pouco sobre a natureza dos objetos das Ciências Exatas e das Ciências Humanas. Um objeto de estudo é aquilo sobre o qual tal ciência se interessa em explicar e em compreender. Para tanto, cada uma das ciências encarrega-se de desenvolver meios de analisar tal objeto de acordo com a sua natureza. O objeto das Ciências Exatas, ou Ciências da Natureza, como a Física e a Química, são os fenômenos que ocorrem na realidade material que conhecemos, isto é, são os fenômenos da natureza e a própria composição da natureza. Nesse sentido, físicos e químicos têm a vantagem de poderem analisar em laboratório ou em grandes centros de observação e experimentação o seu objeto de estudo, que é empiricamente verificável – palpável, podendo ser visto, tocado e manipulado.
As Ciências Exatas, além disso, organizaram-se a partir da linguagem matemática desenvolvida por cientistas e filósofos, como René Descartes e Isaac Newton, entre os séculos XVII e XVIII. Gradualmente, essas disciplinas foram associadas à ideia de precisão e quantificação. No século XIX, as Ciências Humanas ergueram-se em torno do modelo das Ciências Naturais e, partindo desse modelo, procuraram também definir seus critérios de objetividade. Tanto a Sociologia quanto a História procuraram definir seus objetos de estudo e enquadrá-los em modelos gerais de explicação. A História teve uma especial dificuldade com isso, haja vista que o seu objeto de estudo é empiricamente inacessível, pois os acontecimentos e fenômenos humanos do passado não podem ser analisados e verificados em laboratório tal como a composição de um elemento químico o é.
Para investigar a História ou o passado humano, sempre se teve e ainda se tem de esbarrar no problema do grau de objetividade que essa ciência (ou saber) implica. Como saber se o que o historiador escreve sobre o passado é verdadeiro e imparcial se não há como voltar ao passado e apreendê-lo em sua totalidade? Esse problema remete a outro: a imparcialidade do historiador. Alguns teóricos da História defendem que o historiador sempre necessita de uma perspectiva, isto é, de um ponto de vista parcial, porém controlado pelos vestígios e documentos históricos, para empreender sua investigação. Esse ponto de vista seria inevitável porque dependeria de critérios de sentido histórico atrelados às carências de orientação que a vida prática suscita.
Além do mais, o objeto da História é exatamente a ação do homem no tempo carregada de motivações, intenções, erros e paixões. Para a História, o melhor método seria não aquele espelhado no método das Ciências da Natureza que tem uma necessidade intrínseca de precisão e objetividade, mas um método que desse conta das contradições do ser humano, um método interpretativo e não puramente explicativo que implicasse uma objetividade limitada e pautada pelo controle referencial e pela potência criativa da narrativa histórica.
Como disse o teórico alemão da História, Jörn Rüsen: “A pretensão de objetividade não lhes subtrai o vigor da vida. Objetividade pode ser reconhecida como uma forma de sua vivacidade, na qual as narrativas históricas reforçam a experiência e a intersubjetividade na orientação cultural. E assim fazendo, tornam o peso da vida – quem sabe? – um pouco mais suportável.” (Rüsen, Jörn. Narratividade e objetividade nas ciências históricas. Textos de história. v. 4. nº1 (1996). pp. 75-101)
Por Me. Cláudio Fernandes