Soneto
O soneto é um poema que tem 14 versos. Ele pode ser italiano, inglês, monostrófico ou estrambótico.
O soneto é um poema de 14 versos e apresenta uma estrutura fixa. O soneto italiano é formado por dois quartetos e dois tercetos, e é o tipo de soneto mais popular no Brasil. O soneto inglês é formado por três quartetos e um dístico. Já o soneto monostrófico apresenta apenas uma estrofe. Por fim, o soneto estrambótico tem até três versos além dos 14 versos obrigatórios.
Leia também: Quais as diferenças entre a poesia, o poema e o soneto?
O que é soneto?
O soneto é um poema que tem 14 versos.
Tipos de soneto
Os tipos de soneto são os seguintes:
- soneto italiano ou petrarquiano;
- soneto inglês ou shakespeariano;
- soneto monostrófico;
- soneto estrambótico.
Características do soneto
→ Estrutura do soneto
Tipo de soneto |
Estrutura |
Italiano ou petrarquiano |
Tem dois quartetos e dois tercetos. |
Inglês ou shakespeariano |
Tem três quartetos e um dístico. |
Monostrófico |
Tem apenas uma estrofe. |
Estrambótico |
Além dos 14 versos, pode ter até mais três versos. |
Para facilitar seu entendimento, saiba que:
- Quarteto é uma estrofe com quatro versos.
- Terceto é uma estrofe com três versos.
- Dístico é uma estrofe com dois versos.
Saiba também que, no Brasil, a maioria de autoras e autores prefere o soneto italiano, e que, no soneto inglês, os quartetos ficam grudadinhos uns nos outros, e o dístico no final fica destacado por um recuo. Veja um exemplo mais abaixo.
→ Métrica do soneto
A métrica é a medida dos versos. Para medir os versos, nós contamos as sílabas. Para exemplificar, vamos contar as sílabas do seguinte verso do “Pequeno poema didático”, de Mario Quintana:
To/dos/ os/ po/e/mas/ são/ um/ mes/mo/ po/e/ma,
Esse verso tem 12 sílabas porque nós contamos até a última sílaba tônica, ou seja, a última sílaba tônica é o “e” da palavra “poema”. Um verso de 12 sílabas é chamado de alexandrino. Já um verso com 10 sílabas é chamado de decassílabo. São esses dois tipos de metrificação que os poetas e as poetisas mais utilizam.
Outros tipos de versos também podem ser usados, como a redondilha menor (cinco sílabas) e a redondilha maior (sete sílabas). Isso vai depender da época em que são produzidos e da escolha de autores e autoras. De toda forma, o decassílabo e o alexandrino são os preferidos por sonetistas no mundo inteiro.
Veja também: Quais as diferenças entre verso, estrofe e rima?
Principais sonetistas
→ Principais sonetistas do Brasil
- Augusto dos Anjos
- Cláudio Manuel da Costa
- Cruz e Sousa
- Francisca Júlia
- Gregório de Matos
- Jorge de Lima
- Mario Quintana
- Olavo Bilac
- Vinicius de Moraes
→ Principais sonetistas do mundo
- Charles Baudelaire (França)
- Florbela Espanca (Portugal)
- Francesco Petrarca (Itália)
- Garcilaso de la Vega (Espanha)
- Luís Vaz de Camões (Portugal)
- Manuel Maria du Bocage (Portugal)
- William Shakespeare (Inglaterra)
Exemplos de soneto
- Exemplo 1:
O poema “Dorme ruazinha...”, de Mario Quintana, é um soneto italiano:
Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…|1|
- Exemplo 2:
O poema a seguir, de William Shakespeare, é um soneto inglês:
Dos astros não retiro entendimento
Embora eu tenha cá de astronomia,
Mas não para prever a sorte, o intento
Das estações, ou fome, epidemia;
Nem sei dizer o que será do instante,
Prever a alguém quer chuva, ou vento, ou raio;
Se tudo há de sorrir ao governante
Segundo as predições que aos céus extraio.
De teus olhos provêm meus atributos
E, astros constantes, leio ali tal arte:
“Que a verdade e a beleza darão frutos
Se em ti deixas de tanto reservar-te”;
Ou um vaticínio sobre ti revelo:
“Teu fim põe termo ao verdadeiro e ao belo”.|2|
- Exemplo 3:
O poema “Tarde antiga”, de Mario Quintana, é um soneto monostrófico:
Era a mais suave, a mais azul das tardes...
tão calma que só poderá ter sido
naqueles tempos do bom Reyno Unido
de Portugal, Brasil & Algarve...
Te lembras dessas tardes, Dom João VI?
Pois foi por uma dessas nossas tardes.
Estava eu a meditar um texto
do meu querido Manuel Bernardes
eis senão quando... nada aconteceu:
apenas, eu... não era eu...
nem tu o Rei... as almas não têm nome...
e — no Todo onde tudo se consome —
a mesma pura chama consumia
minha miséria e tua hierarquia!|3|
- Exemplo 4:
O poema a seguir, retirado do romance Dom Quixote, escrito por Miguel de Cervantes, é um soneto estrambótico:
No soberbo trono diamantino
que com pés sangrentos pisa Marte,
frenético o Manchego seu estandarte
hasteia com brio peregrino,
descansa a armadura e o aço fino
com que destroça, assola, racha e parte...
Novas proezas!, mas inventa a arte
um novo estilo para o novo paladino.
E se Gaula se orgulha de seu Amadis,
se a Grécia, com seus bravos descendentes,
triunfou mil vezes e a fama alcança,
hoje Quixote é coroado na corte
onde Belona preside, e dele se orgulha,
mais que a Grécia ou Gaula, a nobre Mancha.
O esquecimento nunca suas glórias mancha,
pois até Rocinante, em ser galhardo,
excede a Brilhadouro e a Baiardo.|4|
Notas
|1| QUINTANA, Mario. Antologia poética. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
|2| SHAKESPEARE, William. 50 sonetos. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
|3| QUINTANA, Mario. Antologia poética. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
|4| CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. Tradução de Ernani Ssó. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.
BIZ, Ricardo. A escrita psicanalítica e a psicanálise da escrita. Jornal de Psicanálise, São Paulo, v. 50, n. 92, jun. 2017.
BUARQUE, Jamesson. Soneto como variação fixa formal. Texto Poético, Goiânia, v. 19, jul./ dez. 2015.
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. Tradução de Ernani Ssó. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática, 2001.
PIRES, Antônio Donizeti. Fios da trama poética de Adriano Espínola. Texto Poético, Goiânia, v. 19, jul./ dez. 2015.
QUINTANA, Mario. Antologia poética. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
SHAKESPEARE, William. 50 sonetos. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.