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O adjunto adverbial e o texto

Entenda como o adjunto adverbial pode ajudar na precisão das circunstâncias transmitidas pelo texto.

O advérbio faz a diferença na montagem do “quebra-cabeça” textual

Todo texto é produzido com um objetivo. Há informações que serão dadas nas linhas e outras, nas entrelinhas. Por isso, a habilidade de antecipar o que não é visto é essencial.

Para isso, é importante que o leitor aprenda a percorrer o texto, não tentando simplesmente encontrar palavras, mas buscando sua significação. Que palavras foram usadas? A que classe gramatical pertencem? Qual a sua função sintática? Que ideia o autor quis transmitir ? Por que foi usada esta em detrimento daquela?

Todas as classes gramaticais são importantes na construção do texto. Entretanto, existe uma que em muitos momentos se destaca: o advérbio. Por que ele existe? Você já parou para pensar sobre isso?

O advérbio existe para dar maior precisão às informações. Na oração, exercerá a função de adjunto adverbial e trará mais detalhes, indicando circunstâncias.

O ser humano nunca está satisfeito apenas com a ação verbal, já percebeu? Imagine a seguinte situação: Sua amiga chamada Rebeca chegou. Você não cabe em si de tanta felicidade e a vontade de contar para todos é enorme. Então, ao chegar à escola, você diz: “Gente, a Rebeca chegou!” É possível que as pessoas fiquem satisfeitas somente com essa informação? É provável que não. E na sequência, uma sabatina começará: “Quando? Como? De quê?,etc.” A resposta para todas essas perguntas indicará o quê? Uma circunstância de tempo, de modo, de lugar. Por isso, os adjuntos adverbiais são fundamentais na construção do texto, pois esclarecem melhor as informações, tornando-as mais precisas.

Além disso, os adjuntos adverbiais podem receber destaque em determinado gênero textual, dependendo  da intenção do autor. A seguir, leia o poema Classe mista de Carlos Drummond de Andrade  e perceba como o poeta usa os advérbios para indicar o seu desejo.

Classe Mista

“Meninas, meninas,
Do lado de lá.
Meninos, meninos do lado de cá.”
Por que sempre dois lados,
Corredor no meio,
Professora em frente,
E o sonho de um tremor de terra
Que só acontece em Messina,
Jamais, jamais em Minas,
Para, entre escombros, me ver
Junto de Conceição até o fim do curso?”

*Messina: cidade italiana.

Após a leitura, é importante questionar. Um leitor competente não é passivo, mas interage com o texto.  Que classe gramatical obteve destaque no poema? O advérbio, não é mesmo? Por que isso aconteceu?

Para entendermos, é necessário interpretarmos o texto. Perceba que os três primeiros versos estão entre aspas, indicando que quem está falando é o eu lírico (quem fala no poema). O que é destacado nessa fala? A separação que existia entre meninos e meninas.

Já nos primeiros versos, é possível perceber como os adjuntos adverbiais vão construindo o sentido do texto. O eu lírico não diz que os meninos e as meninas ficavam longe um do outro, mas os advérbios indicam isso: lado de lá,  lado de cá.

A partir do quarto verso, percebe-se que esse distanciamento incomodava o eu lírico. Para demonstrar isso, ele  iniciou o verso com um advérbio interrogativo: Por que sempre dois lados...” Além disso, a angústica do eu lírico, pela distância entre ele e sua amada,  é demonstrada pelo advérbio sempre.

No nono verso, o advérbio de tempo jamais é utilizado duas vezes. Aqui, temos um exemplo do advérbio modificando o próprio advérbio. A repetição intensificou a ideia da ausência de catástrofes naquele lugar.

Ao concluirmos a leitura do poema, percebemos que o eu lírico tinha uma paixão por Conceição, por isso ele não suportava a distância que os separava e usou os adjuntos adverbiais para indicar esses fatos com maior precisão.

Perceberam como o adjunto adverbial é importante para a construção do sentido do texto?


Por Mayra Pavan
Graduada em Letras

Por Amanda Gonçalves Ribeiro

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