Cecília Meireles
Cecília Meireles é uma das maiores poetisas do Brasil. Ela é conhecida por sua escrita cheia de sensibilidade e emoção, e por abordar temas como infância e natureza.
Cecília Meireles (1901-1964) é uma das poetisas mais queridas e importantes da literatura brasileira. Sua poesia, cheia de sensibilidade e emoção, aborda temas profundos como o tempo, a natureza e a infância. Neste artigo, você vai conhecer mais sobre a vida e a obra de Cecília Meireles, incluindo poemas que ela escreveu para crianças, sua importância e as homenagens que recebeu.
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Resumo sobre Cecília Meireles
- Cecília Meireles foi uma poetisa brasileira famosa por sua escrita cheia de sensibilidade e emoção.
- Suas obras abordam temas como o tempo, a natureza, a infância e a existência humana.
- Algumas de suas poesias mais conhecidas foram escritas especialmente para crianças.
- A poetisa recebeu diversos prêmios e homenagens pela sua contribuição à literatura.
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Biografia de Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901. Desde muito cedo, demonstrou grande interesse pela leitura e pela escrita, começando a escrever poesias ainda na infância. Com apenas nove anos, ela já escrevia seus primeiros poemas, e, aos 18 anos, publicou seu primeiro livro, Espectros. Sua infância foi marcada por momentos de tristeza, como a perda dos pais ainda criança, mas sua poesia reflete uma visão sensível e profunda do mundo.
Sua formação acadêmica ocorreu na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde se formou como professora em 1917. Esse início na educação influenciou sua trajetória, já que ela se dedicou intensamente à carreira docente e à promoção da cultura e do ensino no Brasil, sempre envolvida em temas culturais e educacionais.
Em 1922, Cecília se casou com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas, incluindo Maria Fernanda, que mais tarde também seguiria uma carreira literária. A vida pessoal de Cecília foi marcada tanto pela paixão pelo trabalho quanto por perdas e dificuldades emocionais. Com a morte de Correia Dias em 1935, ela precisou lidar com a tragédia, o que se refletiu em suas obras com temas de melancolia e busca de sentido.
Embora seu estilo fosse singular, Cecília se envolveu de forma indireta com o movimento modernista, sendo contemporânea e amiga de figuras como Manuel Bandeira. Sua obra, no entanto, manteve uma perspectiva lírica e introspectiva, distante das experimentações radicais do Modernismo, mas focada em um estilo moderno, com simplicidade e profundidade. Nos anos 1940, Cecília realizou uma série de viagens ao exterior, especialmente aos Estados Unidos e países da Ásia, onde também lecionou e participou de conferências.
Cecília Meireles faleceu em 9 de novembro de 1964, aos 63 anos, vítima de um câncer. Sua poesia continua a ser estudada e celebrada, sendo considerada uma das vozes mais importantes da literatura brasileira e um pilar da poesia lírica em língua portuguesa.
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Características das obras de Cecília Meireles
As obras de Cecília Meireles são marcadas pela musicalidade e pela expressão das emoções. Sua escrita aborda temas como a passagem do tempo, a natureza e a busca por respostas para as questões da vida. Na literatura infantil, ela utiliza uma linguagem simples, mas poética, que encanta e faz pensar. Sua poesia é delicada e, ao mesmo tempo, cheia de significado.
Obras de Cecília Meireles
Cecília Meireles escreveu várias obras importantes, incluindo livros de poesia, prosa e literatura infantil. Alguns de seus livros mais famosos são:
- Viagem (1939), que ganhou o prêmio da Academia Brasileira de Letras.
- Romanceiro da Inconfidência (1953), inspirado nos acontecimentos da Inconfidência Mineira.
- Ou Isto ou Aquilo (1964), uma obra especialmente voltada para o público infantil.
Essas obras mostram a diversidade de temas e o grande talento de Cecília, que escreveu para adultos e crianças com a mesma dedicação e sensibilidade.
Poemas de Cecília Meireles
Alguns dos poemas mais belos e mais famosos de Cecília Meireles incluem os seguintes textos:
- Poema “Motivo”: um poema que expressa a liberdade de ser e sentir.
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
- Poema “Retrato”: texto em que a poetisa reflete sobre o passar do tempo.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?
- Poema “Canção”: poema sobre a beleza da vida e das emoções.
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
- Poema “Reinvenção”: um poema sobre a luta entre o que queremos da vida e o que a vida de fato nos oferece, obrigando-nos a nunca perder a esperança e a sempre dar um novo sentido às nossas experiências.
Reinvenção
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço…
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Poemas de Cecília Meireles para crianças
Cecília também escreveu poemas especiais para o público infantil, como aqueles encontrados no livro Ou Isto ou Aquilo. Eles têm uma linguagem leve e imaginativa, estimulando a curiosidade e a fantasia das crianças. Alguns dos seus poemas mais conhecidos para crianças são os seguintes:
→ Poema “Ou isto ou aquilo”
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
→ Poema “A bailarina”
A bailarina
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
→ Poema “Leilão de jardim”
Leilão de jardim
Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis
nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)
→ Poema “O mosquito escreve”
O mosquito escreve
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U e faz um I.
Esse mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
→ Poema “A chácara do Chico Bolacha”
A chácara do Chico Bolacha
Na chácara do Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha!
Quando chove muito,
o Chico brinca de barco,
porque a chácara vira charco.
Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.
Por isso, com o Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!
Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorro coxo
que se chama Caxambu.
Outras coisas ninguém procura,
porque não acha,
coitado do Chico Bolacha!
Qual é a importância de Cecília Meireles?
Cecília Meireles é considerada uma das maiores poetisas do Brasil e uma das primeiras mulheres a se destacar na literatura brasileira. Sua obra é estudada nas escolas e é uma fonte de inspiração para novos poetas e escritores. Com sua sensibilidade, Cecília conseguiu transformar sentimentos e pensamentos em versos que continuam a emocionar e inspirar pessoas de todas as idades.
Prêmios e homenagens a Cecília Meireles
Ao longo de sua vida, Cecília Meireles recebeu vários prêmios importantes. Entre seus prêmios mais notáveis está o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras em 1939, recebido por seu livro Viagem, um marco em sua carreira. Além disso, ela foi a primeira mulher a receber o Prêmio Machado de Assis, também da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.
Em 1953, Cecília foi agraciada com o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, concedido pelo PEN Clube do Brasil, e recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, em reconhecimento à sua trajetória cultural e educacional. Internacionalmente, seu trabalho foi homenageado com o Prêmio Jabuti, já após sua morte, reafirmando a importância duradoura de sua obra para a cultura brasileira e para a literatura mundial.
Hoje, Cecília Meireles continua sendo lembrada em eventos literários e homenagens que celebram sua poética sensível e introspectiva.
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Frases de Cecília Meireles
Aqui estão algumas frases de Cecília Meireles que mostram sua visão poética sobre a vida. Elas refletem a profundidade dos pensamentos de Cecília Meireles e a beleza de sua visão sobre a vida e a natureza.
- “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.”
- “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, e não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
- “E com o silêncio da boca, digo ao silêncio das coisas o que, em silêncio, espero.”
Créditos da imagem
[1] Editora Global (reprodução)
Fontes
MEIRELES, Cecília. Cecília de Bolso. Porto Alegre: L&PM, 2012.
MEIRELES, Cecília. Ou Isto ou Aquilo. São Paulo: Moderna, 2002.
MEIRELES, Cecília. Viagem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1939.
- RIBEIRO, Sergio. Cecília Meireles: Vida e Obra. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994.