Balaiada
A balaiada foi uma rebelião provincial que aconteceu no Maranhão entre os anos de 1838 e 1841. Essa foi uma rebelião popular, motivada pela insatisfação popular com a pobreza e desigualdade social da província, que se mesclou com a disputa travada por bem-te-vis e cabanos pelos poder político da província.
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Contexto histórico da balaiada
No século XIX, a província do Maranhão era uma das mais pobres do Brasil e a economia local funcionava sobretudo na dependência das plantations de açúcar e algodão, além da criação de gado praticada em alguns locais. A produção das plantations tinha como foco o mercado de exportação, e havia grande uso da mão de obra escrava.
Na primeira metade do século XIX, a economia algodoeira maranhense passava por uma forte crise, uma vez que o seu produto começou a sofrer com a concorrência do algodão produzido no sul dos Estados Unidos. Isso afetou os produtores locais e fez com que o desemprego se espalhasse pela província.
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Disputa política
Essa má situação da economia no Maranhão afetava a vida da população mais pobre e aguçava a carência dessa parcela. Além dos aspectos econômico e social, a política era foco de tensão no Maranhão por conta da disputa entre bem-te-vis (liberais) e cabanos (conservadores), os grupos políticos hegemônicos dessa província.
Os dois grupos, em geral, tinham uma forte vinculação com as elites maranhenses, embora os bem-te-vis tivessem força considerável em uma “classe média” urbana que residia em São Luís. O cenário político no Maranhão, assim como em outras províncias do Brasil, era de disputa política intensa entre esses dois grupos.
A rivalidade entre bem-te-vis e cabanos fugiu do controle a partir de 1837, quando os conservadores retomaram o poder no Rio de Janeiro por meio da regência de Araújo de Lima. Isso fez com que os bem-te-vis fossem afastados do poder no Maranhão, e os cabanos passaram a governar a província a partir da ascensão do conservador Francisco Bibiano de Castro como presidente da província.
O embate entre conservadores e liberais ganhou novos contornos por meio da Lei dos Prefeitos. Essa lei foi aprovada pelo próprio presidente da província e trazia modificações significativas para a administração das cidades no Maranhão. Ela determinava que muitas das responsabilidades do juiz de paz em relação à administração urbana seriam transmitidas para um prefeito.
Esse prefeito seria nomeado pelo presidente da província e teria uma série de poderes que incluía, por exemplo, o poder policial. Como os cabanos estavam no poder da província, os prefeitos escolhidos eram pessoas aliadas dos conservadores. Isso criou um cenário de perseguição aberta aos bem-te-vis, cada vez mais afastados do poder.
Desenvolvimento da balaiada
A disputa política logo se converteu em insatisfação popular, pois, enquanto bem-te-vis e cabanos lutavam pelo controle do Maranhão, a população, formada majoritariamente por negros e pardos, via sua situação piorar cada dia mais. Foi nesse cenário de disputa política entre conservadores e liberais e de insatisfação popular que uma revolta eclodiu.
Tudo começou em 13 de dezembro de 1838, quando o vaqueiro Raimundo Gomes, conhecido como Cara Preta, decidiu atacar uma cadeia para salvar seu irmão. Isso aconteceu quando Gomes passava por Vila da Manga (atual cidade de Nina Rodrigues) com uma boiada de seu patrão. Lá, muitos dos homens a seu serviço foram recrutados e seu irmão foi preso, acusado de assassinato.
Raimundo Gomes reagiu à prisão de seu irmão e atacou a cadeia, libertando-o, além de libertar outros presos. O ataque realizado por Gomes espalhou um movimento popular pelo interior do Maranhão. Raimundo Gomes seguiu como líder de outros focos de rebeldes que surgiram na província, e logo outros nomes começaram a destacar-se na agitação popular.
Outros dois nomes importantes foram o de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido pelo apelido de Balaio, porque era um sertanejo que produzia cestos de palha, os balaios. Além disso, havia Cosme Negro, um representante dos negros libertos e escravizados que tomaram parte na balaiada.
A revolta popular, a princípio, contou com o apoio dos bem-te-vis, que viram na oportunidade uma chance de enfraquecer os cabanos no poder do Maranhão. Assim, os bem-te-vis aliaram-se com os cabanos porque passaram a temer que a revolta popular se radicalizasse demais e se voltasse contra os interesses deles.
De fato, a revolta popular no Maranhão ganhou força, e os balaios conseguiram ocupar a segunda maior cidade da província, a cidade de Caxias. Além disso, o levante popular foi levado para a região fronteiriça do Maranhão com o Piauí. Nesse momento, os balaios decidiram formar uma Junta Provisória na cidade de Caxias.
A partir daí, foram abertas negociações com o governo da província para que a rebelião popular tivesse fim. Os balaios exigiam termos como a anistia (perdão) a todos os envolvidos com a revolta e a revogação da Lei dos Prefeitos, por exemplo. O governo provincial não aceitou negociar com os balaios, e a revolta seguiu seu curso.
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Como terminou a balaiada
A partir de 1840, uma figura decisiva tornou-se protagonista na balaiada: o coronel Luís Alves de Lima e Silva, militar que ficou famoso como duque de Caxias. Nesse ano ele foi nomeado para a presidência da província e tornou-se responsável por liderar uma tropa de milhares de homens que tinham como função reprimir os sertanejos rebelados.
Luís Alves de Lima e Silva aproveitou-se dos desentendimentos existentes entre as lideranças dos balaios para enfraquecer a revolta. Ele também se aproveitou do fato de que os balaios enfraqueceram-se consideravelmente com o fim da aliança com os bem-te-vis. O militar, ainda, reformou as tropas no Maranhão, melhorando as condições de trabalho dos soldados em geral.
Assim, as lideranças dos balaios começaram a cair. Manuel Francisco dos Anjos Ferreira foi ferido por um projétil e acabou falecendo vítima do ferimento; o negro Cosme Bento, que chegou a liderar três mil escravos durante a balaiada, foi preso e condenado à forca. Sua execução foi realizada em setembro de 1842.
Luís Alves de Lima e Silva ainda concedeu anistia aos balaios, o que fez com que muitos abandonassem o levante armado. O resultado da ação do militar fez com que, na primeira metade de 1841, a balaiada já tivesse sido contida no Maranhão. Com o restabelecimento da normalidade, Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título nobiliárquico de barão de Caxias.
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